sábado, 16 de maio de 2015

Entrevista Kishimoto e Oda - Terceiro Trecho Traduzido

Fonte: opforum.net


Durante a exposição "Naruto-Ten Art Exhibit" será disponibilizado para compra um guia especial com 112 páginas, com ilustrações e fotografias coloridas. Sendo que 13 das 112 páginas conterá diagramação de 4 horas de conversa entre Masashi Kishimoto (autor de Naruto) e Eiichiro Oda (autor de One Piece).

Com o título de "Naruto 道-MICHI-" (Caminho/Estrada), o texto resgata o início de carreira de ambos, e como surgiu a concorrência entre seus títulos na Weelky Shonen Jump. O preço é de 1.300 ienes (em torno de 33,60 reais).

Confira o primeiro trecho, o segundo trecho, e o terceiro trecho abaixo. Este terceiro trecho traz mais uma parte da conversa, algumas partes são as mesmas encontradas no trechos anteriores, porém com uma tradução mais confiável.

Em primeiro lugar, obrigado por seu trabalho nestes últimos 15 anos, Kishimoto-sensei.

Kishimoto: O prazer é meu. Me sinto um pouco mais livre agora que terminou. Mas ainda estou ocupado, com a Naruto Exhibition e tantas entrevistas, sem mencionar no filme que estou trabalhando. Eu achei que teria um pouco mais de folga (risos).

Oda: Na última vez que te vi, logo depois do capítulo final de Naruto, você não disse "O céu parece diferente para mim?"

Kishimoto: Sim, realmente ficou. Parecia de alguma forma mais brilhante. Um céu azul, sabe? (risos) 

Oda: Isso ainda não aconteceu comigo.Os céus ainda estão um pouco amarronzados, por aqui (risos).

Kishimoto: Tudo mudou. Até o gosto da água é diferente agora (risos). Mas, eu estava trabalhando no script do filme outro dia, e pensei: "Ei, eu não preciso fazer isso no meu escritório", então sai para dar uma caminhada, mas não consegui fazer muito progresso.

Oda: Sim, lá fora é difícil. Eu saio as vezes para uma mudança de ares, mas nunca tive uma boa ideia quando estive lá fora.

Kishimoto: Todas as vezes que saio, parece que todas as lojas chamam minha atenção. Olho para o letreiro de um restaurante, e penso, "Hmm, poderia entrar e ver como é", sabe? Ou o seguinte, aconteceu comigo outro dia, eu assisti um filme com meus filhos, que era bem divertido. E depois fomos comer e ficamos jogando conversa fora.

Oda: Legal. Queria poder fazer isso (risos). Quando está trabalhando em uma série, é difícil ter uma pausa, certo? Tipo, quanto mais tempo fico longe da minha mesa, mais ansioso e inquieto eu fico.

Kishimoto: Eu era basicamente assim também.

Oda-sensei, como você se sentiu quando Naruto acabou?

Oda: Eu fiquei um pouco triste, tipo, "Então é isso, hein?" Quer dizer, eu sabia que estava chegando ao fim mas no fundo eu não queria que acontecesse.

Kishimoto: Eu enviei pelo LINE uma mensagem a Oda após terminar. Nós estávamos em contato, não senti que fosse algo tão especial. Afinal, não sou de pompa e circunstância (risos).

A capa do capítulo de One Piece da edição 50 da Weekly Shonen Jump de 2014, a mesma edição que saiu o capítulo final de Naruto, apresentava várias referências a personagens e símbolos de Naruto.

Oda: O coordenador de mídia de Kishimoto no final do mangá já foi o meu editor. Eu fui conversar com ele em particular, e disse “Eu tenho que fazer alguma coisa especial para o final do Naruto.” Eu cheguei no que fiz depois de trocar um monte de ideias com ele.

Kishimoto: Uau, sério? Eu não sabia disso.

Oda: No final, ele não conseguiu decidir por algum plano (risos). Então resolvi desenhar alguns elementos de Naruto, e tive a ideia ali mesmo.

Kishimoto: Que incrível. Deve ter dado bastante trabalho.

Lendo o começo de cada item no menu na parede do restaurante, dá para ler "Parabéns, Naruto" (em japonês), certo?

Oda: Sim, eu quis trazer alguns pratos que lembrassem os leitores do Ichiraku (o restaurante de ramen que Naruto frequenta no mangá). E também decidi incluir uma mensagem secreta. Estava esperando que ninguém mais além de você tivesse percebido, e que isso ficasse entre nós. Mas todo mundo notou (risos).

Kishimoto: Bem, todo mundo menos eu. Meu irmão (Kishimoto Seishi, outro mangaká) me ligou e disse "Olha para o menu na parede ali atrás. Tem uma mensagem escondida". Foi só então que vi! (risos).

Oda: Ainda assim, achei que tinha escondido melhor. Bem...

Parece que os leitores perceberam quando viram escrito no menu "Arugula Salad".

Oda: Quebrei a cabeça para inventar pratos que poderiam ser servidos no restaurante que o personagem frequentava, mas foi difícil (risos).

Kishimoto: E aquele comendo um pedaço de carne é supostamente Naruto, certo? Enquanto o Luffy comia ramen.

Oda: O Luffy dar carne para alguém é um evento raro (risos).

Kishimoto: Aliás, o título daquele capítulo de One Piece (766) é "Smile (Sorriso/Sorria)". Aquilo me deu um nó na garganta. Eu sei que muita gente gostou daquela capa, mas eu fui quem mais ficou feliz com ela.

Oda: Eu nunca contei isso antes, mas o plano original era passar uma mensagem através do capítulo inteiro, e não só a capa. A capítulo estava no meio de um grande flashback sobre Corazón, e o Luffy não estava em lugar nenhum. Originalmente eu planejei colocar símbolos do Naruto em todos os cenários, e até desenhar umas linhas no rosto do Luffy, deixando ele parecido com o Naruto. Infelizmente, a sequência de flashback só terminou depois que Naruto tinha acabado. 

Kishimoto: Nossa (risos). Quero dizer, olhando aquela capa, eu queria ter feito mais coisas como essa.

Mas você desenhou o símbolo da tripulação do Chapéu de Palha no Monumento Hokage, no final do capítulo, não é?

Oda: Deixa eu ver, Kishimoto entrou em contado comigo e me falou disso (antes da publicação). Ele perguntou, "o filho de Naruto vai fazer algumas pichachões, será que posso incluir a caveira dos Chapéus de Palha?" Mas claro, se não causa-se problemas com isso. Mas no capítulo final de Naruto, estava preocupado que os fãs de Naruto pudessem ficar com raiva daquilo.

Kishimoto: Não é um problema (risos). Embora, imaginei que isso iria gerar alguma discussão.

Oda: Nem acreditei que você colocou a caveira naquela página tão grande (risos). As pessoas muitas vezes acham que a relação entre diferentes mangakas da mesma revista não pode ser boa por causa da concorrência, o que não é verdade, muitas vezes, a gente se conhece de longa data.

Kishimoto: Verdade. Todos nós temos uma boa relação (risos).

Quando vocês dois se conheceram?

Kishimoto: Deixa eu ver... Acho que foi numa festa de Novo Ano na Jump, quando eu estava começando.

Oda: É isso mesmo?

Kishimoto: Acho que sim (risos). Na época, ele me passou uma grande impressão. Ele me ensinou muito.  

Oda: Saia daqui (risos).

Kishimoto: Não, sério. Você teve sua primeira série dois antes de mim, e senti como se este seu tremendo talento tivesse emergido. Por isso, no começo eu chamei você de "Oda-sensei", mas você me disse para deixar de chama-lo assim.

Oda: Sim, bem, nós somos da mesma idade. Por que eu deveria ser chamado de "sensei"?

Kishimoto: Certo, nós não somos atores ou artista ou qualquer coisa, mas eu pensei que qualquer um que entrasse antes mim nesse negócio seria para mim uma grande estrela (risos).

Oda: Eu sempre estive ciente da presença de Kishimoto, desde quando ele estreou. Seus desenhos são incríveis. Ao ponto, de compartilharmos a mesma crença.

Kishimoto: Crença? (risos).

Oda: Sim, por que você tem o uniforme da Escola Tartaruga/Turtle School de Dragon Ball? (risos). Desde o início, eu senti que precisava tomar uma posição de combate... 

Kishimoto: Então, você queria uma briga, né? (risos).

Oda: Por estarmos no mesmo gênero de mangá, eventualmente, haverá uma competição, certo? No entanto, depois que te encontrei pessoalmente, e descobri que você é um homem bom e gentil. Me fez pensar, que o resultado de qual mangá é mais popular não importava mais. Não poderia competir com você.  

Kishimoto: Nós dois entendemos o trabalho um do outro.

Oda: Isso me deixa feliz. Quando você passa por momentos difíceis, é bom ouvir alguém dizer palavras de encorajamento. Quando Kishimoto disse que tem o mesmo ponto de vista que eu, realmente entende como eu me sinto, é muito bom saber.

Kishimoto: Sim, eu entendo (risos). Mas eu acho que eu tinha mais facilidades. Oda-san, você está sempre no limite, e com isso vem novos problemas e dificuldades. Se eu fosse você, acho que teria um úlcera.

Oda: É maravilhoso ter Naruto como adversário. A coisa mais sortuda que você me proporcionou foi essa competitividade. De todas as publicações semanais, e todos os quadrinhos do mundo, o que me faz mais trabalhar foi Naruto, estou muito feliz, foi muito difícil para mim. E um tipo de experiência única.

Kishimoto: Eu mantive o olho sobre One Piece, com certeza, foi o único a me bater. Eu estava definitivamente consciente disso.

Oda: Bem, o fato da Jump ter sido o lar de não só um, mas dois quadrinhos de fantasia com batalhas é um testamento à sua obra.

Kishimoto: Dificilmente (risos).

Oda: Normalmente, quando há duas séries de mangá do mesmo gênero, elas costumam competir pela mesma audiência. Mas o Kishimoto descobriu como não deixar que o Naruto e o One Piece ficassem muito parecidos um com o outro. Como no uso das cores, por exemplo. O Luffy usa bastante vermelho, então ele usou uma cor diferente para o Naruto. Não há quase nenhum tom de vermelho no Naruto, não é? Ele fez o possível para manter essa diferenciação. Dito isso, se o Kishimoto tivesse começado dois anos antes de mim e usasse o vermelho primeiro, eu provavelmente teria usado o vermelho mesmo assim (risos).

Kishimoto: Então é aí em que somos diferentes (risos). Mas eu realmente fiz um esforço consciente para que a série não ficasse parecida com o One Piece.

Oda: Uma coisa é falar, mas tenho certeza que deve ter sido difícil de fazer. Quero dizer, eu mesmo tive dificuldades tentando manter o One Piece diferente do Dragon Ball.

Kishimoto: Certo.

Oda: Dragon Ball deixou marcas profundas em todo mundo; eu acho que cinco anos depois de ter acabado, os fãs ainda se lembravam. Com certeza foi uma das minhas histórias favoritas, também. Nunca teria tido chance contra ela. Então eu tive que criar algo diferente.

Kishimoto: Eu ouvi sobre isso.

Oda: É por isso que eu tento enfatizar o elemento da aventura para os leitores, ao invés das cenas de luta. Mas acho que isso foi mais difícil para o Kishimoto. Ele tinha que evitar ficar parecido com o Dragon Ball e o One Piece.

Kishimoto: Foi um processo de tentativa e erro, com certeza. Oda estava escrevendo uma história sobre uma grande aventura, então eu tinha que ficar longe disso. É por isso que o Naruto sempre voltava para a vila depois de cada missão. Além disso, o Luffy gradualmente foi agregando um monte de amigos em One Piece, então achei que o Naruto deveria começar a história rodeado pelos amigos. Dessa forma, esperava que o mangá fosse diferente desde o primeiro capítulo.

Oda: Isso me lembra da vez em que tive que mudar as coisas por causa de Naruto. O nome Sanji era ser originalmente "Naruto". Mas no instante em que o seu mangá começou, eu percebi que ele iria durar um bom tempo, então troquei o nome no último instante.

Kishimoto: Em que etapa isso aconteceu? Você já sabia que iria usar aquela sobrancelha enrolada?

Oda: Naturalmente. Quero dizer, era por causa da sobrancelha enrolada que eu queria chamá-lo de Naruto. Ele era daquele jeito desde os meus primeiros esboços do personagem. Mas fico feliz de você ter começado Naruto antes de eu ter apresentado o Sanji. Senão, eu poderia ter te deixado em uma situação difícil.

Kishimoto: E poderia ter sido.

Oda: Uma coisa, o que você teria feito se o Sanji tivesse aparecido como "Naruto"?

Kishimoto: Eu provavelmente teria mudado.

Oda: Mesmo sendo o personagem principal? (risos).

Kishimoto: Eu teria chamado de (alguma coisa relacionado a ramen) “Menma” ou “Shinachiku” (risos). Mas daí eu teria que repensar o símbolo dele.

Oda: "Shinachiku" teria sido difícil de pronunciar para os leitores estrangeiros (risos). Por outro lado, eu conversei com o Kishimoto antes de apresentar a técnica "Gigant Pistol", sabe, o golpe em que o punho do Luffy fica enorme? Porque tem uma cena na Parte 2 do Naruto em que mão do Choji fica bem grande…

Kishimoto: Isso mesmo.

Oda: Foi uma surpresa ver aquilo, então quando chegou a hora de mostrar o golpe Gigant Pistol, eu avisei a ele "Olha, vou meio que copiar o seu estilo. Desculpa."

Kishimoto: Não foi nenhum grande problema (risos).

Oda: Mas foi graças ao Kishimoto que os nossos dois mangás puderam ser publicados ao mesmo tempo, na mesma revista.

Kishimoto: Bem, no momento que alguém me disse que o Naruto era parecido com o One Piece, já sabia que não tinha chance. Mas eu realmente senti a influência do Oda às vezes.

Oda: Ah, tá (risos).

Kishimoto: Teve uma vez, não me lembro quando, quando eu te perguntei em particular sobre a sua abordagem para escrever mangás. Eu queria saber como se sentia a respeito.

Oda: Você se lembra do que eu disse?

Kishimoto: Ele não se lembra (risos). Você disse, “A questão não é desenhar bem. É se desafiar todas às vezes em que faz isso – é assim que você deve abordá-lo." Aquilo me deixou impressionado.

Oda: Bem, o momento em que você está de costas para a parede, esse é o momento em que você desenha com emoção.

Kishimoto: Sim, acho que isso é verdade. É como o diálogo dos personagens, nunca vai ficar bom até você colocar sentimento de verdade. Sem isso, não tem aquele espírito.

Oda: É, você não consegue transmitir nada. Você tem que pensar com força nisso e desenhar com emoção.

Falando nos personagens, o que você acha do estilo de desenho do Kishimoto-sensei?

Oda: Tudo o que ele desenha, ele desenha bem. Digo, ele tem muito respeito pelos animadores, e é por isso que as sombras dele são tão distintas.

Kishimoto: É, eu tento faze-los aparecer. O Oda, por outro lado, prefere trabalhar com gradientes de cor.

Oda: Eu gosto de pintar tudo. Mas o físico do Luffy é um pouco diferente do resto do pessoal, então às vezes não faço ideia que tipo de sombra usar (risos).

Kishimoto: O senso de composição e layout de Oda são ótimos. Não importa quantos personagens apareçam em um painel, ele faz tudo funcionar como uma imagem só. Você sente que cada quadro tem importância, dando a sensação de avançar a história. Isso torna o mangá divertido.

Oda: O Kishimoto gosta de anime, e é por isso que aparecem todos aqueles efeitos que nunca se viu antes no mangá. O estilo de expressão dele é simplesmente incrível. Como por exemplo, quando o Naruto e outros personagens usam técnicas ninja; deve ser um desafio de verdade ilustrar esses movimentos em uma escala tão grande, mas o Kishimoto nunca deixa de arranjar uma forma nova de mostrá-los.

Kishimoto: Eu gosto de efeitos, e sou muito exigente com eles (risos).

Oda: Aquele que mais me surpreendeu foi quando um dos seus vilões ficou invisível e entrou debaixo d’água. Tudo o que dava para ver era sua silhueta, e eu achei que ficou muito bem feito. Você mesmo inventou aquilo?

Kishimoto: Devo ter usado isso no “Kakashi Gaiden”. Não consigo me lembro bem dos detalhes.

Oda: Bem, usei aquilo como inspiração para o meu personagem invisível (risos).

Kishimoto: Bem, você tem um olho para essas coisas. Mas fico feliz de ouvir você dizer isso.

Oda: Eu preciso comentar sobre suas cores, também. Você sempre usa as melhores. Você costuma prestar muita atenção nisso também?

Kishimoto: Bem, nem tanto (risos).

Oda: Você muitas cores elegantes e moderadas.

Kishimoto: Uso.

Oda: Sempre gostei dessas cores também. Mas como a audiência de One Piece são de garotos. Acho que eu deveria me esforçar para usar muitas cores primárias. E agora, bem, me acostumei muito com essas cores primárias, mas foi uma transição dolorosa (risos).

Kishimoto: Agora que você comentou, a sua paleta de cores sempre salta das páginas, não é?

Oda: Bem, essa é outra diferença entre o Naruto e One Piece que provavelmente foi bom ter existido.

Kishimoto: A forma como você usa cores no One Piece é bem complicada, nunca conseguiria fazer isso. Acho que essa é a sua arma secreta. Eu já li vários mangás, e nunca vi ninguém usar cores da forma como você usa. Achei que pudesse ser algum talento natural seu, mas foi algo que você se esforçou para alcançar. É incrível.

Oda: Eu comecei a desenhar um monte de arco-íris agora (risos).

Havia algo que você buscava alcançar em seu trabalho de arte em Naruto, Kishimoto-sensei?

Kishimoto: Bem, os efeitos que mencionamos antes são um exemplo. Mas em Naruto, eu sempre quis mostrar todos com os pés firmes no chão.

Oda: Soa como óbvio, mas é mais difícil de conseguir do que parece. Você precisa saber exatamente onde fica o centro de gravidade do corpo, como, de que forma a posição do quadril é afetada quando o personagem levanta o ombro, e por aí. Esse senso de equilíbrio é crucial. É por isso que olhando para o Naruto, mesmo só a forma como ela fica de pé, dá para sentir a firmeza.

Kishimoto: Você faz isso muito bem também.

Oda: Eu costumo mudar o chão para combinar com a forma como os personagens ficam de pé. Em One Piece tem um monte de personagens de tamanhos diferentes, e percebo que não consigo desenhá-los do jeito como quero se eu começar pelo chão.

Kishimoto: Eu me sinto do mesmo jeito quando desenho as Bijuu. É preciso levar o chão até elas.

Oda: Você é fã do Godzilla, então deve ter gostado bastante desenhar aqueles monstros enormes (risos).

Kishimoto: Definitivamente. Mas sempre que vou desenhar uma Bijuu, o tempo de entrega fica menor. São muitos painéis para fazer.

Oda: Sim, sempre que se desenha da perspectiva de um personagem grande, o quadro costuma incluir um monte de personagens menores, e isso cria várias coisas para ilustrar.

Kishimoto: Mas não acho que alguém coloque tantos detalhes em cada quadro quanto você.

Oda: Não sei. Sempre achei que sua técnica de "Clones das Sombras" dava trabalho.

Kishimoto: As cenas com ela eram bem difíceis (risos).

Oda: Mas isso é porque você é bem exigente. Quero dizer, é sempre difícil quando se está no meio de um desenho, mas nada traz mais satisfação do que uma imagem bem feita. E os leitores também apreciam isso. Não me interessa quantos dias possa levar, eu quero publicar só páginas boas.

Kishimoto: O problema é ter a energia para fazer isso (risos). Mas ver como você encara o seu trabalho de frente também me dá vontade de fazer o meu melhor.

Oda: Mas, sabe de uma coisa, está ficando difícil realizar exposições como a Naruto Exhibition. Nos dias de hoje, todo mundo está passando a fazer ilustrações pelo computador, então, daqui a pouco não vão haver mais espaços para exibir desenhos originais. Acho que fazemos parte da última geração que pode criar exposições desse tipo.

Kishimoto: "Ultima geração", ele diz...

Oda: Somos praticamente fósseis.

Kishimoto: Fósseis vivos (risos).

Oda: Que sorte, entrar nessa nova era já fossilizado (risos).

Quais os seus personagens favoritos de Naruto, Oda-sensei?

Oda: Provavelmente o Rock Lee e o Maito Gai. Kishimoto é muito em todas aquelas cenas de Kung Fu. 

Kishimoto: Bem, eu cresci assistindo aos filmes de Jackie Chan, o que posso dizer?

Oda: E do ponto de vista do design, o Zabuza era muito legal. Acho que o Naruto decolou mesmo em popularidade durante a história com o Zabuza.

Kishimoto: Aquele período foi bem difícil. Eu ficava com febre toda semana, e tinha que continuar desenhando (risos).

Oda: Esse foi o período mais difícil  durante o seu trabalho em Naruto?

Kishimoto: Não, provavelmente foi no fim. O último capítulo ia ser em cores, então precisei começar bem cedo. E como eles já haviam decidido em qual edição ele seria lançado, tive que adaptar a história para caber no cronograma. Mas quanto mais o capítulo final se aproximava, mais eu sentia que estava faltando espaço para encerrar as coisas. Normalmente eu deixaria para continuar o enredo na edição seguinte, mas agora eu não tinha como fugir. Sério, houveram momentos em que achei que estava perdido (risos).

Oda: Mas eu não senti que o capítulo foi feito na pressa. O layout e os painéis tinham bastante margem. Mas tenho certeza que você já havia planejado tudo até o confronto final entre o Naruto e o Sasuke. Foi difícil chegar naquele ponto da história?

Kishimoto: Sim, foi (risos).

Oda: Eu acho que seria divertido para mim encerrar o One Piece de um jeito maneiro, alegre, mas chegar lá vai ser uma batalha difícil. Tenho um monte de ideias do que eu posso fazer, mas tem razão, é muito difícil (risos).

Qual a parte mais difícil na preparação do final de Naruto?

Kishimoto: Foi como eu iria retratar o Sasuke. Até aquele momento, eu havia mostrado muito dos sentimentos internos do Naruto, mas mantive os sentimentos do Sasuke totalmente escondidos. Eu sabia que iria revelá-los no final, mas não tinha certeza como chegar lá. Bem, eu havia decidido no começo que o clímax seria a batalha entre o Naruto e o Sasuke, então isso saiu mais ou menos como eu havia imaginado. Mas as coisas que aconteceram entre um ponto e outro não saíram exatamente como planejado.

Oda: Quando se vai ilustrar algo que estava na sua cabeça desde o começo, você pode acabar se cansando daquilo bem rápido. Então se você acabar tendo uma ideia mais interessante, é muito importante explorá-la. Não use algo só porque foi a sua ideia original – você também pode acabar decepcionando o leitor, com isso.

Kishimoto: Exatamente. Quando a inspiração bate na porta, você não pode ignorá-la.

Oda: E quando ela chega lá, você tem que saber como continuar na próxima semana. Senão, "Ah não, o que eu faço agora?" (risos).

Kishimoto: Você pode tentar arranjar alguma justificativa. Alguma coisa que seja consistente com o que veio antes (risos). É por isso que eu acho que os artistas de mangá que sabem improvisar desculpas criam os melhores histórias.

Oda: É, você tem saber conectar tudo. 

Pode ser cedo, mas você já tem alguma ideia para seu próximo trabalho, Kishimoto-sensei?

Kishimoto: Bem, não tenho nada definido, mas queria experimentar trabalhar com ficção científica. Eu gosto de nuvens, então pode ser alguma coisa no céu. Eu fiquei com muita inveja quando o Oda realizou a saga Skypiea.

Oda: Você já comentou isso.

Kishimoto: Gostei muito de tê-la lido. Eu queria ter feito uma história daquelas, mas One Piece fez antes... Oh, pena (risos).

Oda: Lá vem você de novo, querendo não competir comigo (risos). Bem, espero pelo menos que você possa ter um merecido descanso.

Kishimoto: Mas a situação é a seguinte, depois que se termina uma série, você já quer começar outra. Não consigo parar de pensar que, enquanto estou relaxando, você ainda está lá, fazendo suas páginas.

Oda: Bem, fique à vontade para começar uma nova série quando quiser (risos). Quando amigos autores acabam de terminar um projeto longo, eu costumo dizer a eles para conversarem comigo quando puderem, mas não vou fazer pressão. 15 anos de trabalho em qualquer coisa é bastante tempo. Você devia descansar um pouco.

Kishimoto: Muito obrigado!

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