Fonte: mangabrog
Abaixo encontra-se a entrevista de Masashi Kishimoto (Naruto) e Hiroaki Samura (Blade - A Lâmina Imortal) concedida a Shonen Jump + (conteúdo digital da Shonen Jump). Confira as três partes da entrevista em japonês (parte 1, parte 2 e parte 3).
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Kishimoto: Eu utilizei Blade - A Lâmina Imortal para estudar a estrutura e o layout. e costumava comprar duas cópias da Afternoon.
Samura: Por que duas?
Kishimoto: Depois de comprar uma edição da Afternoon, eu cobri minha parede com Blade - A Lâmina Imortal. O problema é que com as páginas coladas na parede, eu só conseguia ver um lado, então comecei a comprar duas cópias para que eu pudesse ver os dois lados. Então comecei a martelar a estrutura na minha cabeça — analisando ela, do tipo. "Certo, então ele fez o quadro desse jeito, e lê-se a página assim", ou, "Hmm, então ele gasta x número de páginas para fazer isso". E ainda hoje, tenho o costume de espalhar páginas e olhar para elas quando elaboro um capítulo.
Samura: Uau, você não precisava ficar olhando para minha obra — havia uma abundância de bons modelos de aprendizado na Jump...(risos).
Kishimoto: Veja bem, queria que você soubesse o quanto eu estava obcecado por seu trabalho (risos). O ritmo que você dá ao seu mangá é simplesmente fantástico. Você mostra as posições dos personagens em "zoomed-out shot", você corta a cena para atrás e para frente com um movimento de câmera rápido em uma série de "close-ups". Eu ainda me surpreendo com a maneira que você cria o ritmo, com quadros de "close-ups" abaixo de um outro grande quadro.
Samura: Uau, você não precisava ficar olhando para minha obra — havia uma abundância de bons modelos de aprendizado na Jump...(risos).
Kishimoto: Veja bem, queria que você soubesse o quanto eu estava obcecado por seu trabalho (risos). O ritmo que você dá ao seu mangá é simplesmente fantástico. Você mostra as posições dos personagens em "zoomed-out shot", você corta a cena para atrás e para frente com um movimento de câmera rápido em uma série de "close-ups". Eu ainda me surpreendo com a maneira que você cria o ritmo, com quadros de "close-ups" abaixo de um outro grande quadro.
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Marca registrada de Samura: grande quadro no topo e quadros de ação pequenos abaixo. |
Samura: Para mim, a coisa mais importante na arte em meu mangá é a explicação. Explicar o que está acontecendo na cena é sempre prioridade, e depois, tentar fazer isso de forma mais bacana, vem em segundo lugar. Um pensamento que tive recentemente é que os rápidos cortes nas cenas de ação em filmes são diferentes dos cortes que fazemos em cenas no mangá, porque no mangá você tem que mostrar mais "zoomed-out shot". No filme você poder criar "close-ups" o tempo todo sem mostrar o fundo, porque o fundo que você vê é cor, e ainda assim é possível entender o que está acontecendo. Ao contrário do mangá...
Kishimoto: Que é todo preto e branco.
Samura: Certo. Você tem que explicar tudo.
Kishimoto: É complicado. Uma cena de ação com muito movimento dificulta sua interpretação.
Samura: No seu caso eu acho que é muito pelo fato de ser uma série "weekly shonen". Quero dizer, sua agenda é brutal, não é? Eu li uma notícia uma vez sobre como é a semana de um artista da Jump, isso me fez questionar como vocês encontram tempo e energia dentro deste horário para dedicar-se ao seu trabalho (risos). Você tem tão pouco tempo, e tem uma produção constante. De forma que, por exemplo, estou supondo que você não consiga aplicar retícula como você gostaria, correto?
Kishimoto: Isso mesmo. Definitivamente isso ocorre nos capítulos, publicados na revista. De qualquer maneira — chego a corrigir alguns erros para as versões "tankobon".
Samura: Suas batalhas possuem linhas densas, isso significa uma grande quantidade de informações para o olhar acompanhar, essa informação pode parecer apenas ruído. Acredito que seria mais fácil de ler se você pudesse aplicar uma retícula em todo o fundo em torno dos personagens, mas claro, levaria algum tempo para isso.
Kishimoto: Não, não há. Em seu mangá, por vezes você aplicava um tom em seus personagens em primeiro plano, o que dava ao quadro uma profundidade. Eu estava fazendo isso no início de Naruto, mas, eventualmente, eu tive que parar porque não tinha mais tempo.
Samura: Você quer dizer que meu mangá é mais fácil de ler, e que a única diferença é porque estou usando retícula (risos).
Kishimoto: E o posicionamento de câmeras também. Muitos "close-up" e quem lê não sabe por onde os personagens aparecerão. Em Naruto, as pessoas que lutam não são normais — eles tem o tamanho de kaiju — eu não sei o quão longe eu posso mover a câmera. Não posso movimentar muito para trás, ou você não será capaz de ver os personagens; muito perto e você não pode ver que eles estão lutando. Seu trabalho de câmera é outra coisa que eu admiro em você. Eu imagino que em Blade - A Lâmina Imortal no arco do Castelo Edo deve ter sido difícil, pelo fato de você ter que lidar com a perspectiva em cenas que ocorrem no subsolo. A ideia de desenhar cenas de luta é incompreensível. Você fica tão limitado em posicionar a câmera.
Kishimoto: Que é todo preto e branco.
Samura: Certo. Você tem que explicar tudo.
Kishimoto: É complicado. Uma cena de ação com muito movimento dificulta sua interpretação.
Samura: No seu caso eu acho que é muito pelo fato de ser uma série "weekly shonen". Quero dizer, sua agenda é brutal, não é? Eu li uma notícia uma vez sobre como é a semana de um artista da Jump, isso me fez questionar como vocês encontram tempo e energia dentro deste horário para dedicar-se ao seu trabalho (risos). Você tem tão pouco tempo, e tem uma produção constante. De forma que, por exemplo, estou supondo que você não consiga aplicar retícula como você gostaria, correto?
Kishimoto: Isso mesmo. Definitivamente isso ocorre nos capítulos, publicados na revista. De qualquer maneira — chego a corrigir alguns erros para as versões "tankobon".
Samura: Suas batalhas possuem linhas densas, isso significa uma grande quantidade de informações para o olhar acompanhar, essa informação pode parecer apenas ruído. Acredito que seria mais fácil de ler se você pudesse aplicar uma retícula em todo o fundo em torno dos personagens, mas claro, levaria algum tempo para isso.
Kishimoto: Não, não há. Em seu mangá, por vezes você aplicava um tom em seus personagens em primeiro plano, o que dava ao quadro uma profundidade. Eu estava fazendo isso no início de Naruto, mas, eventualmente, eu tive que parar porque não tinha mais tempo.
Samura: Você quer dizer que meu mangá é mais fácil de ler, e que a única diferença é porque estou usando retícula (risos).
Kishimoto: E o posicionamento de câmeras também. Muitos "close-up" e quem lê não sabe por onde os personagens aparecerão. Em Naruto, as pessoas que lutam não são normais — eles tem o tamanho de kaiju — eu não sei o quão longe eu posso mover a câmera. Não posso movimentar muito para trás, ou você não será capaz de ver os personagens; muito perto e você não pode ver que eles estão lutando. Seu trabalho de câmera é outra coisa que eu admiro em você. Eu imagino que em Blade - A Lâmina Imortal no arco do Castelo Edo deve ter sido difícil, pelo fato de você ter que lidar com a perspectiva em cenas que ocorrem no subsolo. A ideia de desenhar cenas de luta é incompreensível. Você fica tão limitado em posicionar a câmera.
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Arco no subsolo do Castelo Edo (Volume 18). |
Samura: Sim, você não tem tão recurso de câmera.
Kishimoto: E mesmo assim você elabora cenas de luta de forma que o leitor possa entender o que está acontecendo. Eu tentei desenhar uma cena de batalha em um corredor quando meu personagem Jiraya apareceu pela primeira vez, foi muito difícil — a tal ponto que tive que dizer ao meu editor que o trabalho de câmera para esse tipo de cena era muito difícil. Mas você teve todos os tipos de personagens em lutas em passagens no arco do Castelo Edo.
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Cena de Luta em Naruto e o trabalho de câmera de Kishimoto. |
Samura: Sim, bem, eu forcei o caminho nessa parte (risos).
Kishimoto: Isso não é verdade.
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Samura: Mudar um pouco o tópico, é um fraqueza em comum que nós dois partilhamos. Você tem problema para criar personagens sem ambiguidade, não é ? (risos) Nós dois não conseguimos evitar de acrescentar "background" e "side story" para os vilões que os humanizam apesar de tudo.
Kishimoto: Ah, nós colocamos "flashbacks" e explicamos a infância dos personagens...na realidade, a história fica um pouco longa no final das contas, não é ? (risos)
Samura: Você deve saber, afinal somos o mesmo tipo de artista, mas uma coisa que me impressiona em Naruto é o fato de você não esquecer nenhum personagem. Nessa lona batalha final, por exemplo, você tentou dar a cada personagem seu momento de destaque, certo? Você pode pensar que por ser um mangá de 15 anos, você iria esquecer de alguns personagens do começo da história.
Samura: Você deve saber, afinal somos o mesmo tipo de artista, mas uma coisa que me impressiona em Naruto é o fato de você não esquecer nenhum personagem. Nessa lona batalha final, por exemplo, você tentou dar a cada personagem seu momento de destaque, certo? Você pode pensar que por ser um mangá de 15 anos, você iria esquecer de alguns personagens do começo da história.
Kishimoto: Eu tentei fazer com que todos tivesse sua oportunidade de brilhar. Você também fez a mesma coisa com seus personagens.
Samura: Sim, eu tentei trazer todos os personagens, até personagens que não tinham razão para voltar.
Kishimoto: Fiquei muito feliz de ver personagens como Giichi no final de Blade - A Lâmina Imortal. Adorei a sua luta com a arma de Manji.
FIM PARTE 2
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