segunda-feira, 23 de julho de 2018

Konoha Hiden - Capítulo Oito (Tradução)

A novela "Naruto - Konoha Hiden: Shūgenbiyori" (Naruto - Konoha Hiden: O Dia Perfeito para um Casamento), autoria de Shō Hinata, foi lançada em 01 de Maio de 2015 no Japão. O livro contém 240 páginas.


Os capítulos da novela serão traduzidos para o português a medida do possível. A tradução para o inglês foi realizada por cacatuasulphureacitrinocristata. Você pode ler o oitavo capítulo abaixo. Para ver outras partes do livro acesse aqui.

------------------------------------------------------------------------------
Capítulo Oito: A Missão Final, Fim

"Agora… está na hora de começar."

"É a Última Missão do Time Oito! Vamos, rapazes." Kiba ergueu a voz como se estivesse bradando um grito de guerra.

Após uma longa viagem, Shino, Kiba e Akamaru tinham chegado à entrada de Sora-ku.

Eles passaram sob um elegante portão japonês, sustentado por grossos pilares escarlates, e entraram na cidade.

No momento seguinte, todos do grupo engoliram em seco com o que viram na frente deles. Mesmo Kiba, que esteve muito barulhento um minuto atrás, parecia calmo. Era além do que eles tinham imaginado.

Inúmeros edifícios estavam amontoados, paredes haviam se partido em pedaços e desmoronado, placas de loja com tinta desbotada, e inúmeras lojas com janelas de vidro quebradas, estavam alinhadas como se estivessem tentando competir umas com as outras.

Claro, não havia ninguém dentro da cidade. As ruínas desabitadas e abandonadas tinham, ao que parece, ficado assim por um tempo muito longo.

O centro da cidade tinha um monte de prédios altos, um indício do número considerável de pessoas que viviam aqui.

Nem Kiba, nem Shino sabiam como Sora-ku tinha chegado neste estado, ou para onde seus antigos moradores tinham ido.

Mas antes que eles percebessem, eles estavam imaginando as cenas do passado distante, uma cidade cheia de atividade e movimentada, diferente do cenário atual.

Pais e filhos tinham estado aqui. Irmãos. Amigos. Namorados.

Não havia dúvida, esse lugar costumava ser movimentado como Konohagakure.

Todo o bairro estava quieto. Não havia um único som. Mas, ocasionalmente, você podia ouvir o som do vento. Era, sem dúvida, o som de correntes de vento soprando através das janelas quebradas e do interior dos edifícios.

Parecia que o vento que soprava na quietude do silêncio eram gritos produzidos pela cidade abandonada.

As vicissitudes da vida. Essa frase veio à mente de Shino.

Mas, seria aceitável resumir algo assim com aquela simples frase? Ele hesitou, porque a visão parecia muito triste para essas palavras.

"É um lugar desolado." Shino murmurou. "Alguém realmente vive aqui...?"

O nariz de Kiba contraiu, se movendo. "Não há erro..." Ele disse. "Definitivamente, há umas poucas pessoas aqui."

Kiba entrou no edifício que estava à frente, dizendo, "Este caminho".

Shino e Akamaru o seguiram.

O interior do edifício era tão caótico quanto o exterior. Os dois homens e o animal, cuidadosamente, seguiram seu caminho por um corredor longo e escuro. Quanto mais seguiam em frente, mais complexo ficava, como um labirinto. Tubos se agarravam às paredes, era difícil dizer se eles carregavam água ou gás.

A julgar pela aparência, parecia que o edifício não tinha sido construído desse jeito, que foram feitas várias adições ao longo dos anos, e que resultou nesses corredores complexos.

É mais provável que seja uma contra medida contra intrusos... Pensou Shino, olhando para as paredes de cores diferentes.

"Fede a mofo aqui", Kiba comentou, "Este lugar com certeza é deprimente."

Naquele momento–

"Bem, miau, sinto muito por este lugar ser deprimente."

Um gato tinha saltado de um dos dutos de ventilação de ar quebrados.

"Mas que...?!" Kiba estava desconcertado pela súbita aparição do gato. Ele não tinha sido capaz de senti-lo com seu nariz.

Akamaru ficou em guarda, deixando escapar um rosnado baixo. No mesmo instante, Shino estava em alerta também.

"Esses hitai-ate... miau, shinobi de Konoha?"

O gato estava falando. Não parecia haver outros gatos ao redor. Tinha pelo predominantemente cinza, com tufos brancos na ponta do nariz, e boca. Ele encarava-os com seus olhos brilhando.

"Um fede a cão. Um fede a inseto. Um é um cão." Depois de olhá-los por completo, um por um, o gato murmurou tal fala abusiva. "Sério, miau, vocês são um bando de inúteis."

Mas, depois de tudo, Kiba não se importou. Ele estava olhando para o gato e enchendo-o com palavras de elogio.

"Essa é uma surpresa." Kiba disse, "Completamente sem cheiro. Este gato é alguma coisa...!"

"Gatos ninja removem completamente o cheiro quando estamos limpando nossos corpos, miau. Nós somos diferentes dos gatos normais."

"Um desses gatos ninja dos rumores, hein...?"

Shino fixou os olhos no gato a frente dele.

Ele parecia como qualquer outro gato que você encontraria em qualquer lugar. Seus movimentos eram muito parecidos com os de um gato também.

A diferença era o kimono que usava, e as palavras que falava.

Sora-ku tinha um outro lado, era um paraíso para gatos. Muitos gatos vinham morar na cidade abandonada. A maioria deles eram gatos normais que não conseguiam falar a linguagem humana, mas entre eles haviam estes gatos ninja que tinham milagrosamente aprendido a falar como humanos e usar ninjutsu.

Estes gatos ninja tinham servido o clã de comerciantes do mercado negro da cidade por gerações. Chamá-los de autoridade importante desta cidade não seria exagero. Gatos ninja cooperavam com gatos normais para que, dia ou noite, eles estejam sempre mantendo um olhar atento sobre a cidade. E, isso, incluía lidar com intrusos.

Parecia que os tubos que se agarravam às paredes e tetos eram um caminho secreto para os gatos. Provavelmente, todo o edifício era... não, toda a cidade era assim. Eles provavelmente construíram desse jeito para que qualquer lugar que você fosse, estivesse ao alcance dos gatos.

Era graças aos gatos ninja que esta região permanecia segura.

No entanto, Shino e os outros só tinham vindo até aqui à procura do vinho de mel. Seria terrível se houvesse um mal-entendido, e desconfiassem que eles vieram com más intenções. E assim, Shino começou a falar o mais gentilmente que pôde:

"Nós não somos suspeitos." Disse Shino, "Nós estamos procurando por alguém. Estamos apenas à procura de informações."

"Um homem que usa óculos de sol, um casaco comprido, e um capuz que cobre seus olhos...! Você é certamente suspeito, miau."

"Bem, você tem um ponto..." Por alguma razão, Kiba concordou com o gato.

Shino sentiu-se um pouco irritado, e levantou sua voz. "Você não pode chamar as pessoas de suspeitas só porque elas usam um capuz e óculos de sol. A razão é que eu não sou alguém suspeito. E, além disso, as pessoas que você realmente deveria suspeitar são do tipo que tentam esconder a sua natureza suspeita tentando não ser nada suspeito e..."

"Calma, Shino." Disse Kiba. "Levantar a sua voz para o gato não vai ajudar em nada."

"Eu não consigo suportar o seu fedor de cachorro, miau. Isso me faz querer vomitar."

"COM LICENÇA!? EI, SEU GATO BASTARDO SENTADO AÍ!!!"

"Calma, Kiba. Fique calmo. Siga o meu exemplo."

"Seria melhor se vocês saíssem rapidamente, miau. Se vocês não fizerem isso, serão rasgados membro a membro."

Diante das repetitivas provocações do gato ninja, Kiba finalmente se cansou.

"Heeeh, tudo bem. Podemos obter nossas informações se amarrássemos você, não é?" Kiba olhou para o gato com olhos penetrantes. Ele estalou os dedos, virou o pescoço, ligeiramente soltando seu corpo. E depois-

"Vamos, Akamaru!" Kiba saltou do chão, e Akamaru correu para a frente quase exatamente ao mesmo tempo.

"Seu humano tolo, miau." O gato olhou para o teto, sem parecer nem um pouco preocupado. Ele moveu sua pernas para trás, uma por uma, para alongá-las, e contorceu seu pescoço também.

"Gyan!" Akamaru soltou um grito estridente, e caiu ao lado de Kiba.

"Qual é o problema, Akamaru?! Espe- isso é?!" Kiba desmaiou repentinamente ao lado de Akamaru contorcendo-se também. "Ah- espera ha- gah- hya- kaa- ku-"

Akamaru e Kiba  rolavam no chão, soltando ruídos estranhos. Eles pareciam ter se perdido completamente, puxando os cabelos e batendo em suas roupas.

Shino percebeu que os minúsculos agressores saltaram do corpo do gato ninja.

"Ohh, são pulgas..." Ele disse. "Você enviou pulgas como um ataque. Como esperado de alguém que leva o nome gato ninja. Isto é algo raro. Eu acho que você poderia chamá-lo de algo como Ninpou: Shuriken de Pulgas..."

"N-não só analisEEEEEE c-calmamente." Kiba gritou. "Fa-faça alguma co-coisa logo sHINOOOO!"

Alguém sentiria uma incrível coceira se for coberta por um número tão grande de pulgas, isso não podia ser evitado. Os gritos aflitos de Kiba e ganidos de dor de Akamaru estavam ecoando no corredor.

A fim de ajudá-los, Shino ajoelhou-se em um joelho e fez os sinais de um selo de mão.

"Técnica Secreta: Coleta de Insetos!" Gritou Shino, ele colocou a mão no chão. Ao fazer isso, um chakra azul em forma de teia de aranha surgiu. Ele espalhava-se para fora de seus dedos.

Conforme fazia isso, as pulgas que tinham coberto Kiba e Akamaru saltaram para as teias de chakra azuis, reunindo-se dentro delas. A técnica de coleta de insetos funcionava como o nome sugeria, atraía os insetos para perto do usuário e os reunia em um só lugar. Era uma técnica fundamental para o Clã Aburame, e cada um de seus membros conseguia reproduzi-la.

Originalmente, essa tinha sido uma técnica utilizada para a coleta de insetos em investigações de ecologia.

"Es-estamos salvooos..." Kiba deve ter passado por muita dor. Ele estava tentando equilibrar sua desordenada respiração quando ele se levantou.

Akamaru parecia estar ainda enojado com a situação, balançando todo o seu corpo como se tivesse ficado molhado.

"E pensar que vocês não conseguem vencer nem mesmo de pulgas. Há um limite para o quão patético se pode ser, seus vira-latas, miau."

"Seu gato maldito, nos olhando de cima...!" Kiba se lançou em direção ao gato que esteve calmamente os observando.

"Te peguei!"

Kiba tinha agarrado o gato em suas mãos com firmeza. No entanto, no segundo que o tocou, o corpo do gato desmanchou em pedaços parecidos com pedra.

"O que?!"

Pedras? Não, não era isso. Eram pedaços crocantes de comida de gato. O gato tinha estado ali há um instante atrás. Quando raios ele trocou de lugar com um falso feito de ração de gato...?

"Percebi, então, é um Bunshin de Ração de Gato..." Shino murmurou.

"Agora seria a hora para o elogiar?!" Disse Kiba com raiva.

"É realmente a hora de vocês irem embora, miau." O gato falou de um lugar de dentro de uma passagem, seus olhos brilhando no escuro. "Mesmo um gato, não vai dar a vocês três chances. De agora em diante, vai ser a hora de pôr as garras para fora, miau."

Era assim que os gatos ninja afastavam intrusos. Eles protegiam a cidade e o clã dos Comerciantes do Mercado Negro. No entanto, se um comerciante aparecesse ali, não mandaria todos embora. Isso é o que Shino pensava.

Porém, ele não sabia o que iria fazer os gatos pararem de rejeitá-los.

"Ugh, dane-se!" Kiba gritou irritado, "Nós não conseguimos pegar o gato, não conseguimos obter informações do gato, não há nada que possamos fazer!"

"Se você deseja obter informações, você pode trocá-las por Matatabi*. Mas isso é impossível, já que vocês não têm nenhum Matatabi. Você entende agora? Você fede a cão, nós queremos muito que vocês saiam agora."

Então era assim. Matatabi podia ser trocado por um passe para entrar. Eles não haviam pensado nisso. Seu adversário era um gato, afinal de contas.

"Isso é ruim, Kiba..." Disse Shino. "Nesse ritmo, não vamos fazer progresso algum. Nós não trouxemos nenhum Matatabi..."

Shino inclinou-se para mais perto de Kiba, sussurrando para que o gato ninja não pudesse ouvir. "Já que a situação ficou assim, vou usar meus insetos para-"

"Espere, Shino. Deixe isso comigo."

Kiba tirou uma pílula de ração militar da bolsa de seu cinto, e a jogou para o gato ninja. "Tudo bem, gato. Vou te dar isso. Vamos fazer uma troca. Isso pela informação sobre a localização do apicultor."

"Você está me fazendo de tolo? Não importa como você olhe para isso, não é Matatabi, miau. Matatabi é..." O gato parou de falar, cessando suas reclamações quando aproximou-se da pílula. Ele começou a lamber a pílula de ração militar, sua língua rosa aparecia e desaparecia. "O Quê? O que é isto? Isso tem Matatabi?"

O gato lentamente deitou-se no chão, descansando. Era o comportamento típico que acometia os gatos depois de lamber Matatabi.

"Então, que tal?" Kiba sorriu largamente. "Nós podemos fazer o negócio agora, certo?"

"Que história é essa, Kiba?" Perguntou Shino. "Pílulas de ração militar têm Matatabi?"

"Nah, a pílula tem inukekka** dentro. É algo semelhante ao Matatabi."

As pílulas de ração militar especiais do Clã Inuzuka eram normalmente para cães. Ele nunca havia pensado que uma dessas pílulas tinha algo que gatos gostassem também. Como esperado, Kiba era um homem de confiança.

"Gnnn." O gato soou irritado em meio ao seu torpor induzido pela pílula militar. "E pensar que eu rolaria no chão desse jeito por causa de um idiota fedendo a cão, miau. Meu orgulho não pode perdoar isso, miau."

O gato disse aquilo, engoliu a pílula em um gole, e saiu correndo.

"O qu- EI! VOCÊ NÃO VAI ROUBAR DE MIM! SEU GATO DE MERDA!"

O gato saiu correndo como uma lebre, ou talvez devessemos dizer, como um gato? De qualquer maneira, Kiba tinha corrido atrás do gato fugitivo em alta velocidade.

"ESPERE!" Os gritos enfurecidos de Kiba ecoaram furiosamente pelos corredores.

Shino e Akamaru olhavam para as costas de Kiba enquanto ele perseguia o gato ninja, e logo começaram a correr também. Enquanto eles perseguiam o ágil gato ninja, davam inúmeras voltas, dobrando esquerda e direita nos corredores, como um labirinto.

Shino tinha acabado de fazer outra curva, quando viu Kiba na frente dele. Ele estava congelado, completamente estático. Bruscamente, Shino parou sua corrida para não colidir-se com ele.

"O que aconteceu, Kiba... Você o perdeu de vista?"

Kiba não virou a cabeça, mesmo com a pergunta de Shino.

Shino olhou ao seu redor e viu que havia uma mulher em pé na frente de Kiba. O gato ninja de antes estava sendo segurado em seus braços.

Ela era uma jovem mulher, com bonitos cabelos castanhos, e olhos grandes encantadores. Sua idade parecia ser próxima a deles.

Kiba e a mulher ficaram se encarando quase como se reconhecessem-se de algum lugar.

Então, a mulher notou a presença de Shino, e, olhando-o de cima a baixo, começou a recuar.

"Espere, eu não sou uma pessoa suspeita..." Shino falou antes de ela poder dizer alguma coisa, sendo mais rápido que até a própria suposição. "Eu sou companheiro do Kiba aqui."

Quando ele disse isso, os traços faciais da mulher relaxaram.

"Ah, então era isso. Você correu para cá tão repentinamente que fiquei surpresa." Disse ela, e sorriu.

"Me solte, miau!" O gato estava lutando para sair dos braços da mulher, mas não conseguia se libertar.

Vendo isso, Shino perguntou, "Será que você é... dona desse gato?"

A mulher parecia surpresa enquanto respondia. "Sim. Uhm, o nosso gato fez alguma coisa...? Ouvi uma voz muito alta."

"Nós estamos procurando por alguém." Disse Shino, "Nós demos uma pílula de ração militar como pagamento, mas o gato pegou sem dizer nada."

"Ahh, entendi. Tsk, eu sempre digo a eles para fazerem negócios corretamente."

"Me desculpe se eu não faço negócios com alguém que fede a cachorro, miau." Sibilou o gato enquanto lutava.

"Fede a cachorro...? Essa pessoa aqui?" A mulher virou-se para olhar para Kiba.

Shino virou-se para examinar o estado de seu amigo também. Por alguma razão, Kiba esteve em pé duro como uma estátua, com a boca aberta, faz um tempo.

"Uhm, eu sinto muito. Nosso gato tem sido muito rude..." A mulher continuou, "Ah, meu nome é Tamaki. Nós temos uma loja de armas. E este pequeno aqui é o Momo. Ele está sempre me protegendo."

Então a mulher se chamava Tamaki.

"Então ele é chamado de Momo." Disse Kiba de repente, "Nossa, que coincidência. Nosso cão é chamado Akamaru, ha ha."

Kiba estava dizendo coisas que não faziam sentido.

Por que raios era uma coincidência? Shino estava incomodado por não saber qual componente na conversa fazia isso ser uma coincidência.

Até mesmo Akamaru tinha um olhar de absoluto choque em seu rosto. E é claro que ele estaria assim, vendo seu dono agir como uma pessoa completamente diferente bem na frente de seus olhos.

"Então, você é um usuário de cão ninja?" Perguntou Tamaki, com os olhos brilhando, "Isso é incrível."

Foi em seguida que Kiba começou a agir de modo incrivelmente estranho. Ele estava inquieto. Ele olhava para esquerda e direita. Passava a mão pelo cabelo. Puxava seu cavanhaque.

"Não, bem, heh, eu não sou grande coisa..." disse Kiba, "Ah- sabe, vê, incrível é uma coisa bem diferente, certo? Tipo, eu estou em um nível onde eu poderia ser considerado um candidato para o próximo Hokage, sabe."

"O que uma pessoa tão incrível está fazendo aqui?!" Tamaki ficou espantada.

Akamaru baixou a cabeça e soltou um ganido que soava triste.

Shino não disse nada. Apenas alguns momentos atrás, Kiba esteve furiosamente gritando "GATO DE MERDA!". Shino se perguntava para onde raios aquele Kiba tinha ido.

-----------------------------------------------------------

"Ah, Sim", disse Tamaki, "Vocês estão procurando pelo apicultor."

"Sim, para um presente de casamento de um amigo." Disse Kiba, "Nós estávamos pensando em dar vinho de mel."

"Ahh, essa é uma escolha muito boa."

Shino observava Kiba e Tamaki enquanto eles conversavam. De alguma forma, Kiba tinha finalmente conseguido chegar ao ponto. Kiba e Tamaki estavam segurando a conversa por si mesmos.

Shino estava silenciosamente acariciando a cabeça de Akamaru, que também não estava participando da conversa.

Akamaru parecia estar chateado com alguma coisa, mas quando Shino o acariciava, o cão parecia se sentir melhor, olhando para Shino com seus olhos enrugados. Shino nunca teria imaginado que apesar de ser um usuário de insetos ele acabaria gastando tanto tempo com um cão e aprendendo a ler seu coração.

"Então, eu vou guiá-los."

"Ah, você sabe onde ele está? Ficaríamos muito gratos."

Parecia que a conversa de Kiba e Tamaki tinha terminado. Ela iria guiá-los.

"É fácil se perder nesta cidade", Tamaki disse com um sorriso irônico enquanto ela e Kiba caminhavam lado a lado à frente. Shino e Akamaru seguiam silenciosamente.

-----------------------------------------------------------

Eles caminharam por um caminho muito complexo. Shino pensou que eles estavam saindo para o exterior, mas eles estavam entrando em um novo edifício. Ele pensou que eles logo estariam ao ar livre, mas desta vez, eles se dirigiram para um beco que tinha mais prédios de aparência semelhante.

"Então, este apicultor." Kiba perguntou: "Que tipo de homem ele é?"

"Hmm," Tamaki disse, "Bem, eu nunca vi seu rosto, então..."

"Como assim...?"

"Eu nunca o conheci, mas eu sei onde ele está."

"O que há?"

Shino continuou andando enquanto observava a atmosfera harmoniosa entre Kiba e Tamaki, que andavam um pouco à frente.

Ele estava muito agradecido por ela estar os guiando. Se eles não tivessem perguntado para um morador como percorrer estas ruas complexas da cidade, mesmo com o nariz do Kiba e os insetos do Shino, eles teriam passado tempos difíceis encontrando seu alvo. E algum tempo atrás, tudo que eles encontravam eram gatos, e nem um único ser humano.

Eles passaram pelo topo de paredes em ruínas, fendas de escombros, dentro de lojas com janelas quebradas. Ele podia sentir os olhos dos gatos caindo sobre eles em cada esconderijo.

Quando você olhava para os gatos, eles estavam ou deitados ou lambendo suas patas, mas eles não deixavam Shino ou os outros fora de suas vistas.

Enquanto observava os arredores, Shino teve uma repentina sensação.

Esta cidade abandonada, os gatos que viviam aqui, sob o sol... Parecia que um dia, todos os seres humanos desapareceram subitamente da face da Terra.

Aqui, as pessoas eram os forasteiros.

Se não fosse por Tamaki e o gato ninja Momo, eles provavelmente estariam cercados agora.

Falando de Momo, o gato estava andando ao lado de Tamaki com um olhar ácido em seu rosto. Parecia que não estava satisfeito com a forma como Tamaki e Kiba estavam conversando alegremente.

Kiba estava fazendo movimentos grandes e exagerados com as mãos e braços enquanto falava, e o riso estava fluindo de Tamaki.

Shino ficou quieto, como sempre fazia.

Akamaru estava esquivando-se dos olhares inflexíveis dos gatos enquanto andava.

Dessa forma, os três chegaram até a periferia da cidade.

Quando eles chegaram a esse ponto, o número de prédios em ruínas alinhados lado a lado havia diminuído de forma constante, até que nem mesmo uma casa restasse. Em vez disso, o que eles viram foi- bem, um espesso nevoeiro descera. Seu campo de visão foi prejudicado.

Esta não era uma questão trivial, pensou consigo mesmo Shino, reunindo sua concentração. Ele focou em observar cuidadosamente os arredores.

À frente dele, Kiba e Tamaki continuavam a sua conversa trivial. Mesmo que chegassem logo, algo estava diferente sobre o humor de Shino e o humor entre os dois na frente dele.

Tamaki continuava, sem se preocupar com a neblina.

"Eh? Pensando nisso, não nos conhecemos de Konoha? Eu me mudei para lá recentemente. Embora eu ainda volte aqui frequentemente para visitar minha família. Mas sim, é isso, antes disso, minha avó estava nua quando um grupo de gatos– ah, aqui estamos nós."

Tamaki parou de repente.

Enquanto se perguntava o que diabos sua avó tinha feito, Shino parou também.

Você poderia ver vagamente no nevoeiro um bosque de bambu à frente deles.

"Este bosque de bambu... deve ser o lugar certo." Disse Tamaki.

Essas eram palavras de alguém que disse que iria guiá-los.

"O que você quer dizer com 'deve ser'?" Perguntou Kiba.

"Bem, em poucas palavras, ninguém nunca o conheceu."

"Então como é que você sabe que este é o lugar onde ele mora?"

"Por favor, dê uma olhada nisso", Tamaki mostrou um par de monumentos de pedra que estavam erguidos à frente do bosque de bambu.

Vendo a corda apodrecida que estava enrolada em torno dos monumentos de pedra, Shino murmurou: "Divindades Guardiãs dos Viajantes."

"Está correto." Disse Tamaki, "As pessoas vêm aqui e colocam uma oferenda, coisas como vegetais ou algo do tipo, perto da estátua. Quando eles voltarem no dia seguinte, as ofertas terão desaparecido, e um pequeno recipiente de mel ou vinho de mel estará em seu lugar. E nós chamamos a pessoa que deixa o mel, seja lá quem for, de o 'apicultor'."

"Por que ninguém tentou ir vê-lo...?" Perguntou Kiba, parecendo muito surpreso. "Normalmente, você não ficaria curioso sobre que tipo de cara ele é?"

Bem, isso certamente é o que você pensaria. 'Normalmente'.

Mas aqui era Sora-ku.

A possibilidade de que quem vive aqui não ser alguém íntegro era de 200% por cento. Enquanto essa pessoa trabalhasse corretamente sob a vigilância dos gatos, ninguém se importaria se ele fosse um viajante ou fugitivo.

"Como você pode ver pelas Divindades Guardiãs dos Viajantes, estas são terras sagradas. Mas as pessoas que vivem em Sora-ku não se dão o trabalho de olhar em volta. Nós não temos negócios aqui, no final de contas." Disse Tamaki com uma risada.

O fato de que o apicultor estava vivendo em terras sagradas não parecia ser algo perturbador.

Como esperado, o povo de Sora-ku tem uma maneira única de pensar que é um pouco diferente da dos outros.

"Mas nós temos negócios aqui, sabe..." Kiba disse, "Nós não podemos sentar e esperar sabe lá quantos dias até que as nossas oferendas sejam trocadas por vinho de mel."

"De qualquer forma, vocês idiotas não serão capazes de encontrá-lo, miau. Mesmo os gatos se perdem nesse bosque de bambu, miau." Momo deu uma risada sádica.

Ele pensou que o gato tinha decidido dizer algo que valesse a pena, mas algo como aquilo saiu da sua boca.

Mas Kiba não estava preocupado.

"Somos shinobi. Nós não vamos nos perder." Ele dirigiu as palavras para Momo, e depois se virou para o bosque de bambu envolto pela névoa.

-----------------------------------------------------------

Depois de se despedir de Tamaki e Momo, o grupo começou a caminhar pelo bosque de bambu enevoado.

Shino virou a cabeça e olhou para trás. O resto da cidade já estava fora de vista na neblina. Então, é o que Momo quis dizer com se perder. Se este era o lugar onde ficava a bebida, não é de se admirar que Tamaki, Momo e as outras pessoas de Sora-ku nunca tinham vindo aqui.

De qualquer maneira, eles estavam procurando por alguém cujo rosto era desconhecido, seria uma tarefa impossível de realizar, se você não tivesse altos sentidos de percepção shinobi como Kiba e Shino. Este não era um lugar para não-shinobi como Tamaki estarem.

Mas, dito isto, era possível que este não era um lugar para shinobi estarem também.

Essas estátuas de Divindades Guardiãs dos Viajantes foram colocadas como um marcador para separar o mundo que os seres humanos viviam do mundo que os deuses viviam. Em outras palavras, eles estavam agora caminhando em território que não pertencia aos seres humanos, mas aos deuses.

Eles não eram capazes de ver bem nesta névoa, mas Shino sentia com se ela tivesse ficado ainda mais densa.

"Tudo bem... este deve ser um bom lugar para o primeiro." Disse Kiba, e jogou uma kunai em uma vara de bambu próxima.

Ele estava fazendo isso para colocar um marcador perto da entrada do bosque de bambu. Ele faria isso de novo depois de terem se aprofundado um pouco mais. Eles repetiriam isso por um tempo enquanto prosseguiam. Dessa forma, eles seriam capazes de encontrar a saída quando forem embora, sem se preocupar muito com isso.

"Primeiro vamos encontrá-lo com o meu nariz, em seguida, quando conseguirmos fazer isso, você vai chamar seus insetos e... acho- atchim!" Kiba espirrou repentinamente. Ele fungou, e então disse, "Heh, talvez aquela garota esteja falando de mim..."

"...Você se apaixonou por ela?" Shino perguntou francamente.

"HÃ?! Não, seu idiota! Não há absolutamente nada!"

Kiba ficou muito nervoso. Ele estava gritando palavras em negação utilizando uma voz muito mais alta que a de costume.

"Eu estava... interrompendo o seu romance...?"

"Eu estou dizendo que você está errado!"

"Hinata vai se casar em breve... Kiba, quando você se casar eu vou acabar ficando sozinho. Quando você se casar, deixe Akamaru para mim. A razão é que ele é o único que me entende sem palavras..."

"Com licença? Eu não tenho ideia do que você está falando! O que quer dizer com você vai ficar sozinho?!"

Já que Kiba estava latindo, agitado, Akamaru olhou para o dono e latiu também.

"Auuu!"

"Mas que- Akamaru?! Por que você está dizendo coisas assim, também?! E deixe meu cavanhaque fora disso!"

Mesmo que Akamaru só tenha dado um latido, parecia que ele tinha transmitido uma longa sequência de palavras. Kiba estava reclamando de volta, seu rosto ficando vermelho até os ouvidos.

Seu rosto estava vermelho por causa da raiva ou da vergonha? Shino pensou em silêncio. Provavelmente ambos.

Kiba de repente deu um grito exasperado. "Arggh, chega! Vamos deixar conversas estúpidas como essa de lado!"

Ele virou as costas para os dois, pisoteando à frente.

"Sério... esse cheiro forte de bambu faz com que as coisas sejam difíceis, ugh!"

Parecia que ele estava muito mais irritado agora do que antes.

Mas Shino ficou feliz ao vê-lo assim, porque Kiba era muito mais fácil de entender quando estava desse jeito. É claro, ele podia estar feliz agora, e isso era apenas 'agora'.

Quando ele conheceu Kiba, houve muitas vezes que ele ficou irritado com sua personalidade, que era o oposto completo da de Shino.

Durante o intervalo na Academia, Shino deixava seus insetos fazerem caminhadas no topo de sua mesa, enquanto Kiba corria em torno dos corredores e playgrounds com outros colegas, gritando em voz alta. Em sala de aula, Shino ouvia o professor silenciosamente, enquanto Kiba estaria dormindo ou fazendo confusão.

Para resumir, Kiba só perdia para Naruto quando se tratava de... esqueça, 'perdia', o menino em questão nunca tinha sido o tipo que se contenta com segundo lugar... Kiba estava no nível de Naruto quando se tratava de causar tumulto. Ele tinha sido uma criança problemática.

Naquela época, Shino queria se juntar a um time que tivesse qualquer pessoa, menos ele.

Mas agora, Shino ia em missões com essa mesma criança problema.

Quando estar ao lado de Kiba se tornou algo natural?

A vida era realmente impossível de se entender.

Por alguma razão, Shino não parava de pensar nos velhos tempos enquanto andava.

Seu campo de visão ainda estava prejudicado pela neblina. O cenário não parecia mudar, sempre o mesmo. Aglomerados de bambu envoltos em uma densa névoa, pairando entre eles. Shino achava que os arredores pareciam uma pintura.

"Espere um minuto. Isso é estranho..." De repente Kiba resmungou em voz baixa. "Este não é o cheiro de bambu... O que é isso, este aroma fraco e doce...?"

Kiba olhou ao redor, seu nariz se contraindo.

Claro, Shino não conseguia cheirar tudo o que Kiba podia. Era um aroma fraco.

No entanto, Shino notou uma coisa muito estranha bem na frente de seus olhos.

"Kiba... Olhe para isso..."

Na frente de onde Shino estava apontando, havia uma vara de bambu... com uma kunai fincada nela.

Era a kunai que Kiba tinha jogado como marcador próximo a periferia da cidade por onde eles haviam entrado.

Muito tempo tinha passado desde que eles haviam colocado esse marcador, e eles continuaram caminhando em frente. Eles não deveriam estar vendo o marcador.

"É um genjutsu...?"

Enquanto se sentia apreensivo, Shino mudou o fluxo de chakra dentro de seu corpo, fazendo os insetos dentro dele ficarem desconfortáveis. Ele mudou seu chakra para conseguir quebrar o genjutsu.

No entanto, nada mudou.

A kunai deveria estar há uma longa distância atrás deles. Mas ela estava na frente deles.

"Droga, não conseguimos sair dele... O que é isso?" Kiba baixou a voz, olhando acentuadamente os seus arredores, "Técnica do Afeto Manhoso da Mente (Kori Shinchū no Jutsu)?"

"É uma sensação semelhante à Ilusão Demoníaca: Técnica do Arredor Falso Duplo (Magen: Nijū Kokoni Arazu no Jutsu) também, mas... não é nenhum dos dois..."

Eles eram uma dupla que tinham ficado tutela Kurenai, a melhor usuária de genjutsu em Konoha. Para ser honesto, eles estavam confiantes de que seu conhecimento em genjutsu era maior do que o dos outros ninjas. Claro, isso incluía quebrá-los também.

Mas, eles nunca tinham ouvido falar de um genjutsu como este. Para começar, se fosse um genjutsu, ele já deveria ter sido cancelado. O que significa que era algo diferente, mas semelhante ao que um genjutsu seria... o que seria isso?

"Nós não temos escolha, hein." Kiba disse, "Por enquanto, que tal se Akamaru e eu usarmos a técnica da Presa Giratória de Presa (Gatenga)?"

Kiba encontrou uma solução muito simples. Ao invés de seguir um caminho já definido, desviando dos bambus, eles iriam ignorar isso e andaria em linha reta.

Shino assentiu em silêncio.

"Certo, vamos Akamaru!" Kiba olhou ao seu redor. "...Akamaru?"

Kiba incansavelmente virou sua cabeça para direita e esquerda. Shino procurou em seus arredores também, apertando um pouco os olhos para olhar através da neblina que os cercava.

Mas não importa o quanto eles procurassem, mesmo que ele estivesse bem próximo deles um momento atrás, Akamaru estava em algum lugar. Akamaru desapareceu sem qualquer barulho ou rastro.

"Isso não pode estar certo... Akamaru! Ei, Akamaru! O qu- o que é isso?! O cheiro do Akamaru se foi!"

Kiba perdeu completamente a cabeça. Ele pulou através da neblina, ainda gritando.

"ONDE VOCÊ ESTÁ, AKAMARU?! ME RESPONDA! AKAMARU!"

"Espere, Kiba! Acalme-se!"

Shino correu atrás de Kiba, que estava em pânico. Enquanto Kiba corria, chamando Akamaru, a neblina ficou mais densa em volta de sua imagem. Ele deveria estar bem próximo, mas Shino não conseguia dizer por causa do nevoeiro.

Shino correu, e correu, mas ele não conseguia alcançar Kiba. E logo, Kiba desapareceu de sua visão, também.

"Shino... esse cheiro está muito forte." A voz de Kiba flutuava até ele entre a neblina. "Você deve ter descoberto o que isso é também. É cheiro de mel... esse cheiro doce... sem duvida é...!"

"Kiba...!"

Nesse momento, um número incontável de Kikaichuu surgiu em volta de Shino.

Ele balançou os braços, Kikaichuu continuaram saindo de dentro de seu corpo, por todas as direções. Alguns voaram para o céu, outros cobriram o ambiente ao seu redor, seus Kikaichuu pareciam quase tão densos quanto o nevoeiro.

Mas todos os Kikaichuu que haviam sido lançados não se comportaram da maneira que Shino esperava.

Eles voltaram para ele imediatamente, relatando que não conseguiram encontrar nada.

Ele tentou uma segunda vez, uma terceira, mas não importa quantas vezes ele os liberava, acontecia a mesma coisa.

Os Kikaichuu vasculhavam através das fendas entre os bambus, mas eles sempre voltavam sem encontrar nada.

Ver os insetos voarem confusamente cobriu Shino de suor frio.

Seus Kikaichuu respondiam a chakra. Para eles não estarem achando nada significava que Kiba, quem estava aqui momentos atrás, desapareceu realmente. Era muito mais do que não conseguir vê-lo através da névoa densa.

Isso é impossível...

Shino pensava freneticamente. Ele relembrou as últimas coisas que Kiba disse. Ele falou sobre um cheiro doce ficando mais forte, e disse que era o cheiro de mel. Ele disse que Shino conseguiria descobrir o que era também, o que significava que era muito forte.


Mas, não importava o quanto Shino se esforçasse, ele não conseguia sentir o cheiro doce do mel.

De qualquer forma, conforme ele aguçava seus sentidos e se concentrava, seus esforços davam frutos de outra maneira. Cercado pelo zumbido de seus insetos que voavam de volta para casa, Shino ficou ciente de outro, e diferente zumbido ao fundo.

Ele olhou para cima, e viu várias silhuetas voando na névoa. Elas eram enormes comparadas aos seus Kikaichuu.

Com as cores preta e amarela.

Vespas. E elas estavam voando na direção dele, em linha reta, mirando Shino.

Ele usou seus insetos para defender-se e cortar as vespas. Seu enxame de Kikaichuu tomou a forma de uma espada preta, voando através do ar.

Quando fizeram, os corpos das vespas começaram de súbito a derreter e virar um líquido viscoso. E esse líquido começou a envolver os Kikaichuu que estavam atacando.

"O que é isso?! Essa técnica...!"

Conforme o líquido envolvia seus Kikaichuu, grandes gotas desse líquido grosso caíam ao redor de Shino também.

Mel...?

O cheiro doce misturado com a neblina, assim como Kiba tinha dito. Pela primeira vez, desde que entraram no bosque, Shino conseguiu sentir o cheiro. De fato, o cheiro estava ficando mais forte.

As vespas se preparavam para atacar Shino mais uma vez. Ele usou seus insetos para se defender de novo.

O bambu está no caminho...

Se ele tivesse mais um tempo, ele poderia esmagar o bambu em poucos segundos.

As vespas atacaram, habilidosamente voando pelos bambus e o usando como escudo ao mesmo tempo.

Foi no momento que Shino deu atenção a elas que aconteceu.

Perto do pé de Shino, o mel que caiu no chão começou a assumir a forma de vespas de novo.

Agora eu consigo...! Pensou Shino enquanto as vespas re-moldadas voaram em sua direção pelo nível do chão.

O ferrão da vespa impiedosamente perfurou a nuca de Shino.

Seu corpo balançava muito.

Esse não era um ferrão normal de vespa. O veneno da vespa foi especialmente preparado para ser forte o suficiente para acabar com dois shinobi de uma vez.

A controle das vespas, e suas picadas excepcionalmente tóxicas, apontavam para um usuário de insetos bem habilidoso. Um usuário de vespas e abelhas. As pessoas de Sora-ku nomearam essa pessoa de apicultor.

Quando Shino descobriu a verdade sobre o inimigo que não conseguiam ver, ele desmaiou.

-----------------------------------------------------------

Depois de um tempo, o apicultor apareceu do meio da névoa sem produzir som algum.

Passo a passo, ele lentamente se aproximaram de Shino.

Era uma visão bem estranha.

Você não conseguia ver seu rosto porque ele estava coberto por uma máscara da Anbu com a forma de uma abelha. E não era só o rosto que você não conseguia ver. Todo o apicultor, com exceção do rosto mascarado, estava coberto por um enxame de abelhas.

Ao invés disso, seria mais fácil para você imaginar se fosse dito que quase o corpo inteiro do apicultor era feito de abelhas.

Esse era o apicultor de Sora-ku, cujo rosto ninguém viu.

Ele lentamente deu um passo a frente.

"Clã Aburame de Konoha..." Ele murmurou, enquanto olhavam para Shino caído. Sua voz era baixa, mas clara. Soava como um jovem garoto, mas ao mesmo tempo, como um frágil jovem homem. Também soava como uma mulher calma. Era uma misteriosa, andrógena voz.

"Exatamente." Shino respondeu de trás do apicultor.

O Shino caído no chão se desmanchou. Era um kage bunshin de insetos, feito de milhares deles.

"E pensar que você me enganou..." disse o apicultor, "Você é alguém raro..."

O apicultor não tinha nenhuma emoção em sua voz enquanto olhava ao redor.

Os insetos que fingiram ser Shino se juntaram ao resto de seus Kikaichuu, e em pouco tempo, o apicultor estava coberto pelos insetos de Shino.

As abelhas do jovem apicultor zumbiam e esbarravam-se em agitação, sentindo que seu dono estava em perigo.

"Mas, por que..." O apicultor se perguntou, "O veneno..."

O apicultor estava falando que Shino deveria ter sido picado pelas vespas e ficado sob o efeito do veneno.

A verdade era que Shino foi picado. Ele se deixou ser picado, porque sabia que seu inimigo nunca iria se mostrar se ele não estivesse 'derrotado'.

E foi por isso que se deixou ser picado pelo ferrão venenoso. Ele tinha confiança e fé em si mesmo, o suficiente para fazer isso.

"Eu estava envenenado." Shino confirmou. "Mas isso não era um problema. A razão é que essa quantidade de veneno não vai me matar."

Graças aos insetos dentro de seu corpo, venenos de até certo nível poderiam ser neutralizados.

Shino estudou os pequenos e venenosos insetos Rinkaichuu usados pelo membro já morto de seu clã, Aburame Torune, e a partir disso, criou insetos para resistir a venenos, graças aquela pesquisa.

Por isso que Shino podia neutralizar venenos fortes em momentos como esse. Você poderia dizer que era algo que ele herdou de Torune, que foi criado ao seu lado quando jovem, e foi como um irmão para ele.

"Bem, eu fui realmente derrotado... Essa foi minha derrota." O apicultor disse, percebendo que não poderia contra-atacar. Eles não lutaram, "Você está atrás da minha vida, eu suponho. Bem, estou contente por ser morto por um usuário de insetos de tamanha habilidade..."

"Não, estou atrás do... vinho de mel..." Falou Shino em meio a um tenso silêncio. "Eu gostaria de... mais ou menos duas garrafas..."

Talvez fosse por Kiba não estar por perto, mas o silêncio parecia muito silencioso.

"Você viria até a minha casa...?" O apicultor perguntou, virando seu rosto mascarado.

-----------------------------------------------------------

Acabou que o apicultor era um shinobi de Iwagakure, que se escondeu aqui para viver pacificamente, ao mesmo tempo que, simultaneamente temia que algum dos seus perseguidores o achariam.

Em suma, ele pensou que Shino era um dos perseguidores, e foi por isso que o apicultor o atacou.

"Kiba e Akamaru..." Shino disse, "Um homem que adora cães e seu amado cachorro, eles estavam aqui, mas, o que aconteceu com eles...?"

"Não se preocupe, eles estão seguros. Eles ainda estão vagando na névoa." Respondeu o apicultor. Eles conversavam enquanto se dirigiam para a casa do apicultor.

"Mais cedo, porquê você me atacou...?"

"Porque se você não atacar primeiro um usuário de insetos, você estará em maus lençóis."

"Certo."

Eles continuaram com a conversa. Na verdade, Shino pensou que eles estavam tendo uma conversa vívida.

Shino conhecia o clã de usuários de inseto de Iwagakure. Era um clã de usuários de abelha, que agora estava acabado. O apicultor era um descendente daquele clã.

"Aqui está..."

O apicultor parou, e Shino podia ver uma pequena casa aparecer na névoa densa a frente deles. Era uma casa simples com telhado de palha. O jardim era, provavelmente, a área de criação das abelhas. Tinha um cesto feito de bambu perto dele.

A casa de palha estava discretamente localizada entre o bambuzal, envolto na névoa.

A atmosfera era como um desses refúgios de ninjas que você ouvia em histórias. Na verdade, um nukenin estava de fato vivendo secretamente aqui, então, um refúgio ninja era exatamente isso.

Enquanto Shino olhava para a casa, o apicultor trouxe o vinho de mel. Ele passou para Shino, um brilhante líquido âmbar que balançava dentro do recipiente.

"Obrigado. Quanto...?"

"Eu não preciso de dinheiro." Respondeu calmamente o apicultor, "Não seria algo útil para mim, mesmo que aceitasse, então..."

Parecia que ele estava vivendo nesse lugar sozinho. Ele parecia ter adotado um estilo de vida que era completamente independente, sem qualquer necessidade de dinheiro.

Shino soltou outra frase "Entendo..." e colocou o vinho de mel no saco que o apicultor deu, "O que me lembra, eu ficaria muito grato se você pudesse me ensinar o caminho para a saída. A neblina está realmente densa..."

"Não há um."

O apicultor deu essa resposta sem hesitar.

"O que você quer dizer?"

"Não há um caminho de volta... isso é o que quero dizer." O apicultor sentou no topo de um pedregulho próximo, olhando com intensidade para Shino, com os olhos atrás da máscara. "Esse bosque de bambu é um pouco parecido com um Ninjutsu de Barreira (Kekkai Ninjutsu). Uma vez que você entra, nunca conseguirá sair. Você continuará perdido na interminável névoa. Esse é o tipo de jutsu deste lugar..."

"Você não consegue desfazer o jutsu?" Shino perguntou.

"Me desculpe, mas ele não pode ser desfeito. É um jutsu que eu amarrei em mim mesmo..." O apicultor não parecia muito arrependido sobre isso. Sua voz era sem emoção, como sempre foi. Você poderia dizer que era calma, mas era mais como se fosse uma voz vazia.

"Por exemplo, mesmo se você me matasse, o jutsu não seria desfeito..." O apicultor continuou, olhando para o céu. "Essa névoa foi criada com ingredientes únicos, e que fazem os humanos ficarem confusos e perderem seus rumos. Eu usei só um pouco da essência do nevoeiro para criar o jutsu..."

Shino olhou para a enevoada neblina. E pensar que ela tinha um tipo de ingrediente... Isso era realmente possível? Bem, ele não podia dizer que era impossível.

Ele não conseguia sentir nenhuma hostilidade por parte do apicultor, nem das abelhas que se acumulavam perto deles.

Não parecia que o apicultor estava mentindo.

E Shino lembrou da misteriosa história que ouviu de seu pai, Shibi.

Em Kumogakure havia, aparentemente, uma misteriosa cachoeira. Era enorme, dizia seu pai, a água caia ferozmente e liberava enormes ondas de gotas d'água. Aparentemente, se você a encarasse, seu eu interior, seu eu verdadeiro, seria refletido.

Naquele tempo foi difícil de acreditar, mas havia de fato tal lugar no mundo. Nesse caso, não era tão estranho se uma neblina fizesse humanos perderem seu rumo. Não era um genjutsu, o nevoeiro que era o culpado por tudo.

Shino caminhou em direção aos arredores da casa do apicultor.

Uma neblina interminável, e intermináveis bambus, e mais bambus, e mais outros bambus...

Esse cenário invariável continuou sem um fim.

Como experimento, Shino andou em linha reta, seus insetos voando em sua volta. Logo se encontrou chegando a casa do apicultor mais uma vez.

Ele tentou de novo, andando mais cuidadosamente, e voltou a ver o apicultor, ainda sentado calmamente em sua pedra.

Graças à composição da neblina, até meus insetos se perdem, é isso?

Seus insetos não podiam ajudá-lo. Não havia saída. Ele não conseguia achar Kiba e Akamaru. Ele estava em uma situação complicada.

Mesmo assim, Shino continuou investigando os arredores.

"Eu me perdi no caminho da vida e me encontrei aqui..." Disse o apicultor, "Mas não quer dizer que é um mau caminho de vida. Em vez disso, eu queria viver desse jeito. Aqui, não há nada, apenas o presente. Não há passado nem futuro. Só o agora. Eu estou vivendo no presente. Você não acha que isso é mais do que suficiente...?"

As palavras do apicultor eram calmas, lentas, e ele continuava a partilhar os seus pensamentos. "Eu estive sempre correndo. Correndo de lutas, e do caminho de um shinobi. Desde o início, eu nunca pensei que a vida shinobi combinava comigo. Mas eu nasci e cresci em um clã de usuários de insetos. Eu não tinha outra escolha a não ser viver como um shinobi... É por isso que eu joguei tudo fora, e fugi para este lugar. Se eu não tenho outro caminho para viver, apenas o de um shinobi, então, tudo o que tenho a fazer é continuar perdido..."

As palavras fluíam lentamente do apicultor, e logo, desapareciam na branca e pura névoa.

Shino escutava tudo silenciosamente.

"Todas as pessoas estão perdidas." Disse o apicultor, "Não só eu. Sejam shinobi ou comerciantes, homens ou mulheres, todos. E isso inclui você. Você está perdido também. Por isso que você está vagando, confuso, pela névoa." Ele destacou.

"Você está dizendo que eu estou... perdido...?"

Quando a boca de Shino ficou tão seca? Shino engoliu em seco, e prendeu a respiração.

E, por alguma razão, memórias de Hinata e Kurenai apareceram em sua mente.

Lembrou-se do tempo que ele passou treinando com Hinata.

Lembrou-se dos dias de missões que ele tinha feito sob a supervisão de Kurenai.

Ele tinha construído uma amizade com Hinata. Kurenai conseguiu compreende-lo, mesmo sendo quieto.

Mas...

Hinata iria se casar em breve. Neste momento, ela estava ocupada preparando a cerimônia de casamento.

Kurenai estava ocupada criando sua filha.

As duas já haviam dado início aos seus próprios caminhos. E Shino, silenciosamente, as observava pelas costas delas.

Eles nunca seriam capazes de retornar com o Time Oito, como costumava ser. Nunca mais.

Shino tentou ficar calmo, mas começou a ficar ofegante. O nevoeiro estava enchendo seus pulmões.

Foi isso o que ele quis dizer sobre eu estar perdido...?

Hinata e Kurenai, e todos os outros, estavam rumo aos seus próprios caminhos, mas Shino, era o único que continuava no início, onde começou. Esse era o sentimento que recaiu sobre ele.

Ele não estava indo há lugar algum, e não havia fixado-se em lugar algum. Ele sentia-se como se fosse um nevoeiro oscilante, sempre sendo a única coisa deixada para trás.

Esses sentimentos eram uma mentira criada pela neblina...? Não, não era.

Ele sempre, sempre se sentia assim.

Antes de virem para este lugar, e antes disso também. Ele sempre sentia-se perdido...

E, um pensamento lhe veio à cabeça. De algum pequeno canto de seu coração. Ele não havia percebido por si mesmo, mas ele pensou...

Eu quero voltar para aqueles dias.

Ele queria voltar, só uma vez, para esses dias onde todo mundo ficava junto como Time Oito.

"Você nem percebeu... que se sentia perdido, não é...?" Disse o apicultor, olhando para Shino.

Shino estava paralisado. Ele não conseguia dar nem um único passo para frente. Não importa o quanto ele tentasse se mover, ele não seria capaz de encontrar a saída, então, para que se preocupar? Ele não conseguia nem mesmo ver coisa alguma a sua frente mesmo, graças ao nevoeiro.

"Você não precisa seguir em frente." Disse o apicultor. "Você pode abandonar tudo, e viver aqui, e vai estar tudo bem..."

A névoa, junto com as palavras gentis do apicultor, perfuraram Shino.

Isso talvez seja o melhor. Shino pensou.

E se ele não conseguisse ir em frente, e se não houvesse nada a frente para perseguir, ele poderia ficar aqui e viver seus dias sem precisar mudar nada. Isso poderia muito bem virar sua felicidade.

O apicultor estendeu a mão. As abelhas que cercavam seu braço afastaram-se para revelar uma mão branca, cor de leite.

"Se você quiser," o apicultor disse, "Você poderia ficar aqui comigo."

Shino olhava para a mão estendida.

E então, de repente...

"É a Última Missão do Time Oito! Vamos, pessoal!"

De repente, ele lembrou das palavras de Kiba. Este grito de guerra ressoava na mente de Shino.

Isso mesmo, esta é... a última missão do Time Oito!

Nesse instante, a escuridão ao redor do campo de visão de Shino desapareceu completamente. Sua mente atordoada ficou clara.

Por uma razão ou outra, a névoa em seus arredores desapareceu.

"Eu não posso ficar parado em um lugar como este. Eu tenho que voltar para a vila. A razão é que eu tenho que comparecer a um casamento de um precioso amigo...!"

Debaixo de seus óculos de sol, os olhos de Shino estavam resolutos, enquanto olhava com firmesa para frente.

Naquele momento, ele notou uma vara de bambu nas proximidades, com uma kunai presa nela.

Era sem dúvida a kunai que Kiba jogou no bambu próximo a cidade. Ele não havia notado ela até agora. E o fato de ela estar ali significa que...

Shino virou a cabeça, e com certeza, conseguia enxergar a entrada do bosque de bambu, na frente dele. Ele conhecia ver ligeiramente a pedra Divindades Guardiãs dos Viajantes. Era, definitivamente, o lugar pelo qual Shino e os outros entraram.

"A entrada... não a saída está aqui..." Ele disse para o apicultor, apontando.

"...? Eu não vejo nada... não há nada, apenas neblina..." O apicultor inclinou a cabeça para o lado.

O tom de voz dele soou como se ele não conseguisse ver a saída.

E Shino finalmente entendeu a situação. Era uma coisa bem simples.

A névoa fazia os humanos perderem seu rumo. O jutsu usava a névoa. As pessoas perdem o rumo de suas vidas dentro da neblina. Aqui, não havia passado ou futuro. Era por isso que não havia nada a não ser um eterno 'presente' dentro dela. Era assim.

Mas isso, era somente no caso de você estar fugindo do seu passado e ter jogado seu futuro fora.

Assim como o apicultor disse, não importa quanto alguém treina como shinobi, não importa quantos anos alguém vive, qualquer pessoa, enquanto viva, tinha momentos que se sentia perdida. Mas para esses que não desistiam e continuam indo em frente e acreditando no futuro, essa névoa não tinha poder algum.

Se você fosse firme, e constantemente depositasse esperança e confiança em si mesmo no seu coração, enquanto caminhasse em frente, então, mesmo se você fosse pego na névoa densa, você eventualmente acharia o caminho para a saída.

Shino deu um sorriso irônico. Ele não podia deixar de pensar que, de certo modo, a neblina era bem parecida com a vida.

"Entendo... Então você viu a estrada e a Divindades Guardiãs dos Viajantes..." O apicultor inclinou a cabeça.

Ele silenciosamente murmurou, "É melhor você ir rápido. Antes de você perder o caminho de novo..."

Como de costume, o tom do apicultor era vazio e sem emoção.

Mas, algo sobre ele, o tornava um solitário sentado em uma grande rocha. Ou talvez Shino estivesse pensando demais.

Não, não era isso.

A névoa que envolvia-os, os bambuzais intermináveis, a pequena casa sem moradores, as abelhas que cercavam o apicultor, a máscara da Anbu que ele vestia e com ela escondia seu rosto, cada uma dessas coisas eram como uma barreira para o apicultor. Shino entendeu isto muito bem.

A razão dele ter entendido, era que Shino se escondia também, em seu longo casaco e capuz.

Este é um escudo para me proteger. Não fisicamente, mas emocionalmente.

Shino entendia tanto esse tipo de sentimento que doía.

Era por isso que ele hesitava em ultrapassar ou não os limites de cada pessoa.

As pessoas se perdem, até, por coisas como essa. Mas...

Se ele deixasse o apicultor para trás naquela névoa densa, ele não seria um shinobi. O apicultor era um companheiro shinobi que também havia crescido num clã de usuários de insetos. Se Shino pensasse que estava ultrapassando os limites ou se intrometendo nos negócios de outra pessoa, e virasse suas costas para ele e fosse embora, ele sabia que iria se arrepender.

Em momentos assim, ao invés de lamentar o que você não tentou, era melhor você testar sua sorte e ver. A razão era que...

"Você disse que está vivendo no presente." Shino disse, "Mas eu não posso deixar de imaginar, será que essa não é a escolha errada."

...a razão era que era isso o que Naruto faria.

"Uma pessoa pode realmente viver no presente quando está fugindo de tudo?" Perguntou Shino. "Alguém que é constantemente arrastado por seu passado e incapaz de ver o futuro, está realmente vivendo no presente? Hoje, será um dia no passado, e uma pessoa que vive eternamente nesse presente nunca será capaz de ver seu futuro, não é? Pelo menos, é isso o que penso..."

Shino balançou o saco em suas costas, cheio do vinho de mel que o apicultor lhe deu. Até agora, ele nunca havia se ressentido por palavras mal ditas.

Quando ele estava perdido na neblina, ele havia pensado que seria capaz de viver dia a dia.

"Você é uma joia..." o apicultor falou depois de ouvir a palestra de Shino. "Realmente inesperado. Eu pensei que você fosse um homem quieto, mas acontece que, apesar de você não conseguir se expressar com palavras ou expressões faciais, você é muito apaixonado por dentro... Eu sinto como se tivesse tido uma palestra de um ardente professor."

O apicultor estava falando calmamente. Seu tom era monótono, como sempre foi, e graças à sua máscara, Shino não conseguia ver o olhar em seu rosto.

De qualquer modo, ele sentia como se o apicultor estivesse sorrindo ironicamente.

"Um professor, huh... Eu nunca pensei sobre isso, mas meu parceiro é um rapaz problemático..." Shino respondeu, os rostos de seus companheiros veio à mente, "Vários dos meus companheiros eram crianças problemáticas. Um reclamão contumaz, um grande comilão e um jovem travesso... Quem se comportava corretamente era sempre eu. Mesmo assim, cada um dos meus colegas de classe viraram adultos esplêndidos. Eles viviam o presente  avidamente sem fugir, e é por isso que eles conseguiram chegar nesse futuro..."

Shino parou, e fez um gesto em direção ao saco de vinho de mel que ele carregava. "Obrigado por isso. Eu vou ir embora agora."

"O que você vai fazer sobre aquele rapaz que gosta de cachorros...?" O apicultor perguntou as suas costas, "E se, diferente de você, ele não conseguir sair...?"

Shino não precisou nem pensar para responder aquela pergunta.

"Aquele é muito mais honesto do que eu." Disse Shino, "Ele não vai perder seu caminho."

Cheio de convicção, Shino virou em direção à saída e começou a andar.

-----------------------------------------------------------

Quando Shino saiu da névoa, o amplo céu azul o saudou. Ele colocou as mãos nos bolsos do casaco, e esperou na frente da pedra Divindades Guardiãs dos Viajantes.

Uma fila de formigas estava marchando perto do seu pé, e ele as observava para passar o tempo.

Depois de um tempo, ele ouviu uma voz do meio do bambuzal.

"Yahoo! Nós finalmente achamos a saída, Akamaru!"

A voz foi imediatamente seguida por um latido com som bem familiar.

Kiba pulou de dentro do bosque de bambu, coberto de lama.

"Você está atrasado..." Disse Shino, quando um Kiba coberto de lama saltou. "Kiba."

"O QU-" Kiba pulou para trás com surpresa quando viu Shino subitamente em pé ao lado dele, "Eu sei que é você pelo cheiro, mas você podia pelo menos dar um aviso antes de aparecer de repente!"

Kiba pegou uma toalha de mão para limpar a lama em seu rosto, resmungando sobre como o aparecimento abrupto de Shino tinha quase lhe dado um ataque cardíaco.

"Parece que você passou por algumas dificuldades..." Notou Shino.

"Eu não! Tudo estava bem!"

Kiba era alguém que gostava de agir como um durão. Ele era fácil de entender.

Ele deve ter se perdido também, à sua própria maneira. Assim como Shino, Kiba provavelmente também encarou suas preocupações e ansiedades sobre o futuro, naquele bosque de bambu que parecia um genjutsu. Mas, Kiba, mesmo assim chegou aqui.

Sobre o que raios Kiba estava preocupado? Para que tipo de futuro ele estava indo em direção...?

Shino ficou um pouco curioso, ele estimulou para achar respostas.

"Você vai se confessar para aquela mulher...?"

O rosto de Kiba ficou escarlate com a repentina pergunta. "O qu-? O que é isso?! Porque até você está me incomodando sobre Tamaki?!"

"Hmmm... 'até eu', hein..."

Kiba era um homem muito fácil de se entender. E esse era um de seus pontos positivos.

"Ouça, você está totalmente errado! Você sabe, Shino, você realmente não entende... É provavelmente porque você não é super popular. Ouça, um homem não pode ser muito ganancioso."

Kiba estava tentando parecer legal tanto quanto possível, mas seu rosto ainda estava vermelho.

"Então, o que um homem deve fazer...?"

"Bem... o primeiro passo é, obviamente... uhh... você sabe... aquela coisa." Kiba estava afobado, suor frio escorria pela testa, "Uhm- sim, cartas! A troca de cartas parece ser o melhor para começar, certo?"

"'Parece ser'...?"

"Não, definitivamente é! Caras populares começam trocando cartas! Certo Akamaru?"

Kiba devia estar muito afobado, apelando para Akamaru para obter ajuda. Akamaru desviou os olhos.

"De qualquer forma, o mais importante, nós temos que ir e achar aquele vinho de mel." Kiba mudou de assunto. "O sol vai se por em breve!"

"Eu já consegui alguns." Disse Shino, "Vamos para casa..."

"Você está brincando, né?! Eu não ajudei em nada!"

Shino deu um olhar atônito para Kiba antes de começar a caminhar de volta. Akamaru olhou para Kiba, que congelou em estado de choque, deu um latido, e bruscamente seguiu Shino.

"Esp- espere só um minuto!" Kiba os seguiu, cheio de reclamações, "Que ótimo, primeiro Naruto, agora você, porque é que vocês sempre pegam as melhores partes?! Eu tive um monte de trabalho dentro daquela névoa também, sabe!"

Parecia que o único que sabia pelo que Kiba passou na névoa era Akamaru. O próprio Akamaru parecia estar mantendo os lábios fechados, ele não iria falar sobre isso.

Shino estava pensando naquilo enquanto caminhava, quando–

"Ei, Shino, olhe aquilo!" Kiba gritou.

Imaginando sobre o que ele estava gritando, Shino virou a cabeça para olhar para trás e...

A névoa em torno do bosque de bambu estava indo embora.

Com uma visão completa, o bosque de bambu não era tão grande assim. Tinha um tamanho normal, como qualquer outro bosque de bambu.

"Droga, o que é isso, por que é que está limpando só agora... Eu fiquei tão perdido lá dentro..."

Kiba havia, aparentemente, esquecido como ele havia mentido que tudo estava bem dentro do bosque de bambu, e agora reclamava abertamente. Ele havia se perdido do seu próprio jeito.

Mas, Kiba não sabia do verdadeiro significado da neblina.

O fato da neblina ter dissipado por completo significava...

"Entendo... então, você resolveu as coisas..." Shino murmurou para si mesmo.

Nesse momento, Kiba olhou para o rosto de Shino. O que ele viu fez seus olhos se arregalarem.

"Shino... isso é raro... você sorrir dessa maneira..."

"Hm? Do que você está falando, Kiba?"

"Hein?" Kiba começou a piscar. "Eu estou vendo coisas...? Isso é estranho..."

Shino virou as costas para ele e continuou andando. "Nós temos que nos apressar. Kurenai-sensei está esperando por nós."

A atmosfera estava refrescante. O céu estava limpo, e a névoa se foi.

Kiba se apressou para alcançar Shino, e apertou os olhos para ver o sol, e calcular quanto tempo passou baseado na sua posição.

"Gahh, eu queria achar um presente de casamento antes de todo mundo." Ele murmurou.

"Sério. Nós acabamos gastando tanta tempo..."

"Mas, ei, nosso presente de casamento é definitivamente o melhor!"

"Obviamente. Eu, você, e Akamaru, todos nós conseguimos esse presente trabalhando juntos, afinal."

Depois de um tempo, as velhas construções da cidade abandonada começaram a preencher sua visão novamente. Não haviam muitos gatos na área agora.

Como esperado, os gatos apareceram para ficar de olho neles. Eles provavelmente decidiram que Shino e o resto não eram uma ameaça e foram embora.

É isso, ou eles o viram andando com Tamaki e Momo, e decidiram tolerar suas presenças.

De algum modo, parecia que a própria cidade abandonada deu a eles sua aprovação.

Quando eles entraram na complicada passagem, Shino pegou um inseto.

Por precaução, ele disse para este inseto memorizar o complicado caminho de volta.

Kiba viu o inseto e imediatamente assimilou, soltando um assobio.

"Você é muito sensível," Ele disse, "Obrigado."

"Se nós o seguirmos, chegaremos na saída logo."

Eles seguiram o inseto enquanto ele voava pelas vielas sem hesitar.

"E com isso," Shino murmurou, "A Última Missão do Time Oito... está completa...!"

Por alguma razão, ele queria dizer essas palavras. Ele não queria ouvi-las de outra pessoa. Ele queria ouvi-las saindo de sua própria boca.

É claro, se ele fizesse isso, o auto proclamado líder do Time Oito, também conhecido como Kiba,  não ia deixar passar em branco.

"Por que é você que está falando isso? E sabe, a missão não vai acabar até chegarmos na vila!"

"É claro." Shino obedientemente balançou a cabeça, continuando a pensar sobre o que estava considerando mais cedo, "Vamos voltar para a aldeia, e ver o início do futuro de Naruto e Hinata com nossos próprios olhos."

"Hm? O que é isso? Você se tornou um verdadeiro poeta hoje."

"Me tornei?"

Eles continuaram falando enquanto caminhavam.

Shino lembrou do dia em que foi posto no mesmo time que Kiba.

"Acho que não serei capaz de me dar bem com você. A razão é que nós–"

Kiba não o deixou terminar aquela frase.

Naquela época, ele estava cheio de nada, a não ser ansiedade sobre o futuro. Todos os dias, ele se sentia deprimido com isso.

Mas, olhe como as coisas acabaram.

Agora mesmo, Shino tinha um parceiro no qual confiava mais do que qualquer outra pessoa caminhando ao seu lado.

Ele tinha um melhor amigo que escutava o que ele tinha a dizer.

Se ele fosse capaz de dizer ao seu eu passado sobre como as coisas iriam acabar, que tipo de expressão seu eu passado iria fazer? Ele iria provavelmente pensar que o futuro não era tão ruim assim, no final das contas.

Mas, havia uma coisa que Shino sabia claramente:

O presente não é tão ruim assim.

Mesmo se ele seguisse um caminho diferente no futuro, as memórias deste tempo não desapareceriam.

E quando se tratava do que estava além de suas memórias, quando se tratava do futuro que estava à frente desse presente feliz, Shino não tinha nada a temer.

A razão era que...

Shino repentinamente se lembrou de algo, e virou-se para perguntar a Kiba.

"Dito isso, Kiba... você disse que estava sendo considerado um candidato, mas quando exatamente vai  acontecer sua cerimônia de empossamento do Hokage?"

"Ca-cale a boca! Eu vou trabalhar duro para isso acontecer!!"

A razão era: esses laços.

Seus laços com seus companheiros eram para a vida toda.

Nota*: matababi nome japonês para a videira de prata, uma planta conhecida por ter um efeito sobre gatos.

Nota**: inukekka nome japonês para erva de gato, possui os mesmos efeitos que a videira de prata, citado a cima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário