Confira abaixo um resumo da longa entrevista que Masashi Kishimoto concedeu a revista japonesa Da Vinci. A revista dá continuidade a uma entrevista feita em 2015, cerca de um ano após o término de "Naruto" (veja aqui e aqui).
A tradução para o inglês foi feita por AmaranthSparrow. Confira a tradução para o português abaixo. Para a facilitar a compreensão, o resumo da entrevista foi dividido em tópicos, mas no texto original a entrevista é ininterrupta.
Um samurai em uma jornada para encontrar a caixa de Pandora, e as sete chaves necessárias para abri-lá, fica cara a cara com um inimigo em um planeta misterioso. O que se segue é um mangá cinematográfico de painel lindos e cenas de luta incomparáveis. Um mecanismo que é ativado no início do primeiro capítulo e continua atraindo o leitor para dentro.
Kishimoto explicou que este desejo ganancioso de ter todas as suas coisas favoritas misturadas também é representado no título da série, "Samurai 8: O Conto de Hachimaru", que é uma combinação do filme "Os Sete Samurais" do lendário diretor Akira Kurosawa, e o romance épico do Período Edo, "Nanso Satomi Hakkenden" ("Crônicas dos Oito Cães de Satomi de Nanso"), do autor Kyokutei Bakin.
Ele diz que quer combinar elementos de várias histórias samurais, como a busca por companheiros ligados pelo destino, como acontece em em "Nanso Satomi Hakkenden", que serão incorporados diretamente nessa história. O uso do número sete é devido à conexão forte e evocativa que ele tem com "Os Sete Samurais", e a razão por trás de aumentá-lo para oito é um tema importante que será explorado enquanto ele continua trabalhando na série.
Kishimoto explica que ele passou cerca de dois anos de descanso com sua família. Ele fez algumas viagens, mas na maioria das vezes ele passava o tempo passeando no bairro com seus filhos ou brincando com eles no parque. Ele queria fazer uma pausa nos mangás por um tempo, mas brinca que fazer caminhadas aumenta o fluxo sanguíneo e torna as idéias mais fáceis. Mesmo quando ele estava trabalhando em "Naruto", ele se levantava e passeava pelo estúdio tentando conseguir ideias, então, as longas caminhadas que ele fazia pareciam uma extensão disso.
Kishimoto continua, ele diz que as idéias para o temas "samurai" e "ficção científica", que foram armazenadas em locais separados em sua mente, começaram a se unir. Foi há dois anos que ele começou a trabalhar no lançamento de uma nova série. Em outras palavras, demorou dois anos para que a nova série começasse. No começo, ele pensou que estaria matando dois coelhos com uma cajadada só, mas quando ele começou a criar a história, os gêneros não se misturavam assim tão facilmente.
Kishimoto e a a combinação de samurai e ficção científica
A razão pela qual ele se interessou por samurais pela primeira vez foi por conta do seppuku, ele não conseguia entender por que alguém se mataria só porque o chefe mandava. Ele não podia acreditar, mas ele se interessou e começou a pesquisar e aprendeu sobre a maneira como o samurai viveu, e percebeu que suas vidas eram completamente diferentes das nossas, sempre à beira da morte. Para ele, samurai simboliza a morte. Por outro lado, a ficção científica é imortalidade. Vamos inventar um cenário onde a ciência avançou e a morte como um conceito foi perdida. O que ele está tentando fazer nesta série é misturar morte e imortalidade, que não combinam facilmente.
Kishimoto mencionou a espada como um exemplo sólido do que acontece quando você mistura samurai com ficção científica: quando você pensa em samurai, pensa em espadas. Se você estivesse desenhando um mangá samurai da maneira normal, você daria ao herói uma espada normal e ele teria o espírito samurai em seu peito. Quando você começa a adicionar ficção científica, que tipo de aparelho de ficção científica substitui a espada, e como você expressa o espírito samurai?
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História
Se você quer ser um samurai, você deve estar preparado para "morrer".
Um samurai em uma jornada para encontrar a caixa de Pandora, e as sete chaves necessárias para abri-lá, fica cara a cara com um inimigo em um planeta misterioso. O que se segue é um mangá cinematográfico de painel lindos e cenas de luta incomparáveis. Um mecanismo que é ativado no início do primeiro capítulo e continua atraindo o leitor para dentro.
Introdução
O artigo começa com o escritor mencionando que na longa entrevista que Kishimoto concedeu na edição de Maio de 2015 da revista Da Vinci, ele disse que tinha várias ideias para a sua próxima série, mas ainda não tinha decidido sobre qual delas seria, de qualquer forma, ele apresentaria um personagem muito diferente de "Naruto", e que ele achava que iria surpreender as pessoas. Quando perguntado se Samurai 8 surgiu de alguma dessas idéias, ele confirmou que várias delas haviam envolvido samurai e ficção científica.
O primeiro mangá que ele fez para o WSJ foi de ficção científica (NT: Karakuri, publicado em 1995), por isso, ele sempre quis fazer um mangá de ficção científica, porque ele ama o gênero. Normalmente, escolher um desses dois gêneros (samurai e ficção científica) excluiria o outro, mas ele decidiu combinar os dois em algo com uma visão de mundo única entre os mangás. Ao combinar algo popular e familiar (samurai) com algo um pouco mais fantasioso (ficção científica), ele pensou que poderia matar dois coelhos com uma cajadada só.
Kishimoto e suas inspirações
Kishimoto explicou que este desejo ganancioso de ter todas as suas coisas favoritas misturadas também é representado no título da série, "Samurai 8: O Conto de Hachimaru", que é uma combinação do filme "Os Sete Samurais" do lendário diretor Akira Kurosawa, e o romance épico do Período Edo, "Nanso Satomi Hakkenden" ("Crônicas dos Oito Cães de Satomi de Nanso"), do autor Kyokutei Bakin.
Ele diz que quer combinar elementos de várias histórias samurais, como a busca por companheiros ligados pelo destino, como acontece em em "Nanso Satomi Hakkenden", que serão incorporados diretamente nessa história. O uso do número sete é devido à conexão forte e evocativa que ele tem com "Os Sete Samurais", e a razão por trás de aumentá-lo para oito é um tema importante que será explorado enquanto ele continua trabalhando na série.
Kishimoto e sua folga dos mangás
Eles mencionam que quando eles entrevistaram Kishimoto quatro anos atrás, Kishimoto brincou dizendo que, ao olhar para trás, ele não tinha a menor noção de que ele estava trabalhando em "Naruto" por um longo tempo ou por pouco tempo, mas que 15 anos é realmente muito tempo mesmo. No momento da entrevista, a série tinha terminado cerca de um ano e meio atrás, mas ele continuou com uma minissérie e filmes.
Kishimoto explica que ele passou cerca de dois anos de descanso com sua família. Ele fez algumas viagens, mas na maioria das vezes ele passava o tempo passeando no bairro com seus filhos ou brincando com eles no parque. Ele queria fazer uma pausa nos mangás por um tempo, mas brinca que fazer caminhadas aumenta o fluxo sanguíneo e torna as idéias mais fáceis. Mesmo quando ele estava trabalhando em "Naruto", ele se levantava e passeava pelo estúdio tentando conseguir ideias, então, as longas caminhadas que ele fazia pareciam uma extensão disso.
Kishimoto continua, ele diz que as idéias para o temas "samurai" e "ficção científica", que foram armazenadas em locais separados em sua mente, começaram a se unir. Foi há dois anos que ele começou a trabalhar no lançamento de uma nova série. Em outras palavras, demorou dois anos para que a nova série começasse. No começo, ele pensou que estaria matando dois coelhos com uma cajadada só, mas quando ele começou a criar a história, os gêneros não se misturavam assim tão facilmente.
Kishimoto e a a combinação de samurai e ficção científica
A razão pela qual ele se interessou por samurais pela primeira vez foi por conta do seppuku, ele não conseguia entender por que alguém se mataria só porque o chefe mandava. Ele não podia acreditar, mas ele se interessou e começou a pesquisar e aprendeu sobre a maneira como o samurai viveu, e percebeu que suas vidas eram completamente diferentes das nossas, sempre à beira da morte. Para ele, samurai simboliza a morte. Por outro lado, a ficção científica é imortalidade. Vamos inventar um cenário onde a ciência avançou e a morte como um conceito foi perdida. O que ele está tentando fazer nesta série é misturar morte e imortalidade, que não combinam facilmente.
Kishimoto mencionou a espada como um exemplo sólido do que acontece quando você mistura samurai com ficção científica: quando você pensa em samurai, pensa em espadas. Se você estivesse desenhando um mangá samurai da maneira normal, você daria ao herói uma espada normal e ele teria o espírito samurai em seu peito. Quando você começa a adicionar ficção científica, que tipo de aparelho de ficção científica substitui a espada, e como você expressa o espírito samurai?
Ele menciona que, ao percorrer o primeiro capítulo, você pode ver as soluções que ele criou. Kishimoto continua, explicando que você pode desenhar quantas imagens quiser, mas o problema é se as imagens serão ou não pelas crianças. Os dispositivos de ficção científica levam tempo para serem explicados, por isso, ao usar ideias com as quais as pessoas estão familiarizadas, ele queria tornar as coisas o mais intuitivas possível. No final, ele decidiu que, nesta série, "chave" será uma metáfora para "samurai", e os personagens principais serão chamados "porta-chaves". Ao criar esse tipo de analogia, você começa a ter ideias interessantes para dispositivos de ficção científica, e as crianças entenderão melhor.
Kishimoto sobre as dificuldades da ficção científica
Durante a entrevista, ele mostrou os storyboards para o primeiro capítulo. Nesse capítulo, o cenário, os personagens, a história e os maneirismos são todos explicados. Apesar de serem apenas 72 páginas, eles dizem que foi como assistir a um filme de Hollywood de duas horas. Kishimoto concorda, dizendo que era o estilo que ele estava procurando. Depois de começar a trabalhar no projeto dois anos antes, ele completou o primeiro capítulo há um ano e continuou trabalhando diligentemente.
Enquanto trabalhava no storyboard do primeiro capítulo, Kishimoto se referia constantemente ao livro "Como Star Wars Conquistou o Universo", do jornalista inglês Chris Taylor. Eles dizem que "Star Wars" é a joia da coroa do gênero de ficção científica, e este é um livro que narra sua produção do início ao fim. Kishimoto continua explicando que foi um filme que mudou completamente a percepção global da ficção científica, e que é uma série extremamente popular que ainda vende bem até hoje, mas antes do primeiro filme de 1977, consegui-lo foi uma luta.
Kishimoto fala sobre como, na época, a ficção científica era vista como confusa porque os cenários eram difíceis de explicar, e na época eram todos filmes B que adultos nunca iriam ver, no entanto, George Lucas superou tudo isso. Depois de ler sobre a história da série naquele livro, ele decidiu que deveria seguir o exemplo e fazer o seu melhor também. Eles apontam que o campo de batalha de Kishimoto é Weekly Shonen Jump, no entanto, é melhor você não dizer a frase: "Começa confuso, mas me dê um tempo".
Kishimoto explica que, se você não se sair bem em pesquisas com leitores, perderá rapidamente sua chance de criar um hit. Ele diz que transformar uma história confusa de ficção científica em um mangá shonen facilmente compreensível foi incrivelmente difícil. Ele, então, acrescenta que não haverá muitas explicações científicas para os dispositivos da série no início, e que ele pretende apresentá-los como quase mágicos, inspirando-se na famosa citação de Arthur C. Clarke, "Qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível da magia". Então, depois que o leitor se acostumar com o cenário e visão de mundo, ele começará a explicar as coisas mais cientificamente e, através desse processo, espera incorporar o conflito entre religião e ciência. Ele brinca dizendo que, por enquanto, ele está tentando fazer pequenas melhorias no primeiro capítulo.
Kishimoto e seu trabalho com Okubo
Eles mencionam que esta será a primeira vez que ele criou o primeiro capítulo de uma série em 20 anos, e que foi um processo difícil e doloroso, mas desta vez ele tem um parceiro para dividir o peso, e esta é uma maneira diferente de criar um novo mangá. Desta vez, Kishimoto está encarregado dos storyboards originais, enquanto ele está deixando as ilustrações finais para Akira Okubo. Kishimoto brinca que ele queria criar um mangá recheado com suas coisas favoritas, mas ele nunca fará nada parecido com "Naruto" novamente. Foi uma escolha ele parar de desenhar sozinho, e esta é uma decisão que ele tomou há muito tempo.
Kishimoto explica que a arte de Okubo é realmente boa, e que ele começou a trabalhar com ele, como assistente, no meio de "Naruto". Ele mencionou que eles tinham uma tradição de incluir os desenhos de seus assistente nas páginas gratuitas dos tankobon (volumes), mas que as imagens de Okubo continuavam ficando cada vez melhores, e estavam realmente ficando lindas. Okubo pretendia lançar sua própria série independentemente, mas houve problemas que impediram que isso acontecesse. Como Kishimoto realmente queria ler um mangá com a arte de Okubo, e Okubo tem a habilidade de desenhar samurai e ficção científica, Kishimoto pensou que se ele mesmo fizesse os storyboards originais, isso poderia se tornar uma realidade. Além disso, ele disse que o estilo de Okubo estimulou diretamente sua imaginação.
Kishimoto continua dizendo que Okubo desenha ilustrações muito suaves e charmosas. Como a arte de Okubo sempre transmite calor, mesmo ao desenhar robôs ou dispositivos, Kishimoto sugeriu que, em vez de criar um ambiente cibernético difícil, mecânico, ele deveria procurar algo mais como os quadrinhos franceses de Moebius, ou "Nausicaä do Vale do Vento", de Hayao Miyazaki. Depois de consultar Okubo e obter uma sólida compreensão do cenário, eles começaram a compartilhar idéias para designs de personagens e assim por diante, e Kishimoto diz que enquanto assiste Okubo desenhar, sua imaginação continua se expandindo cada vez mais.
Kishimoto sobre a importância da ficção científica
É dito que a transição da criação de "Naruto", que é um mangá sobre ninjas, para criar um mangá sobre samurai, provavelmente deve ser suave tanto para o autor quanto para os leitores. No entanto, o ponto chave desta série é ser uma ficção científica. Kishimoto explica que, embora houvesse elementos do gênero samurai inseridos em "Naruto", por causa do cenário, ele não incorporou elementos de ficção científica. Porque ficção científica é o seu gênero favorito, e ele quer uma chance de criar algo desse tipo.
Kishimoto continua dizendo que no passado houve um boom de mangás de ficção científica, mas agora há uma seca. No passado, havia um desejo por parte dos leitores, então, os mangás foram criados em resposta a isso, e agora ele precisa criar esse desejo para os leitores novamente. Então, ele teve que descobrir por que o gênero de ficção científica estagnou. Ele diz que acha que seu papel no gênero de ficção científica é deixar as crianças saberem que "a ficção científica é divertida". Ele menciona que ele ama "Ghost in the Shell", de Masamune Shirow, e "Battle Angel Alita", de Yukito Kishiro, mas acha que para os leitores que ainda estão na escola primária, o obstáculo para eles entrarem nesses mangás seria alto demais. Ele se preocupa muito com isso.
Kishimoto segue elaborando, falando sobre como o gênero de ficção científica o inspirou. Ele menciona ter gostado de "Mobile Suit Gundam" quando criança pelos dispositivos e lutas de robôs entre Zakus e Gundams, mas à medida que ficou mais velho, ele percebeu que os robôs eram apenas um gancho para atrair o leitor e a história era na verdade sobre a realidade da guerra. Da mesma forma, a série de filmes "O Exterminador do Futuro" feita em Hollywood, embora tenha tecnologia e ação excitante, também retrata temas contemporâneos como Inteligência Artificial e a ameaça da guerra nuclear. Recentemente, ele achou os filmes Distrito 9 e Elysium de Neil Blomkamp muito interessantes, com a representação da polarização entre os ricos e os pobres refletindo exatamente o que está acontecendo em nossa sociedade hoje.
Kishimoto continua dizendo que, quando se fala de realidade, há temas que são difíceis de aceitar quando são expressos diretamente, então, eles são expressos através de uma história ambientada em um mundo distante, assim você poderá entendê-lo metaforicamente. Mais com este título, mais do que "Naruto", ele acredita que ele pode traçar paralelos com problemas reais e dificuldades com as quais as pessoas estão lidando nos dias atuais. Ele acha que só a ficção científica pode expressar os tempos modernos da maneira que ele quer.
Kishimoto continua dizendo que quanto mais você puder tornar esses conceitos compreensíveis para as crianças, mais conscientes os homens e mulheres do futuro se tornarão. Ele menciona que no filme "Avatar" de James Cameron, conectá-los à floresta com suas tranças era uma metáfora tão óbvia para se conectar à internet que poderia ser compreendida por qualquer pessoa, e ele quer fazer esse tipo de coisa com essa nova série.
Pensamentos finais de Kishimoto
Uma pergunta final foi feita: "Você disse que quando "Naruto" começou, você só tinha a história dos primeiros oito capítulos planejados, e no final, acabaram sendo 700 capítulos. E quanto a "Samurai 8: O Conto de Hachimaru?"
Kishimoto responde: "Desta vez, decidimos do começo ao fim. O início foi inspirado em "Nanso Satomi Hakkenden", então, o processo de reunir oito pessoas, incluindo o mestre, esse será o esboço. Haverá oito pessoas, e para abrir a caixa, eles precisam de sete chaves E... o que há nessa caixa? Com tudo depende do momento final, com isso como foco, eu planejo cuidadosamente desenhar cada capítulo. Não levará 15 anos, como com Naruto, os artistas de mangá morrem jovens, certo? Bem, eu quero me divertir na minha velhice (risos)."
"Talvez esta série possa desencadear outro boom de ficção científica no Japão. Mas antes disso, eu tenho que ganhar o apoio dos leitores da Jump, e gostaria de informá-los que estarei trabalhando para melhorar o primeiro capítulo até o último minuto, então, por favor, fiquem no aguardo."
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